O vento aqui no litoral é o centro cinético do estar.
Penteado por ele, banhado pela folhagem cascateante, o écran, no entanto,
rouba-me a atenção. De salto em salto em certos endereços “internéticos”, chego a um filme da BBC (afixada pelo substantivo
Londres) sobre o quadro Guernica de Pablo Picasso.
Nome reduzido de Pablo Diego José Francisco de Juan
Nepomuceno Maria de los Remédios Cipriano da Santíssima Trindade Ruiz y
Picasso. Esse longo e severo caminho do reacionarismo, pervertido e decadente
da Espanha Imperial, dominada pela mais perversa facção da Igreja Católica
Apostólica Romana. A Igreja matriz da alma inquisitória.
O gênio do nome reduzido, fragmentando toda a pintura
neoclássica dos Cavalheiros do Absolutismo não coube nas malhas sangrentas de
sua Espanha. Paris era outro universo. Outro tempo, mais do que outro espaço. O
poder do gênio sobre sua arte era tal que o reconhecimento público o suspendeu
acima do comezinho das malhas sangrentas.
A ação do pintor e escultor derrubou todo o universo
plástico daquela Europa cuja arte já era menor do que a fotografia. Uma foto
dizia sobre aquele retratismo mais do
que os traços e cores da herança renascentista, clássica e romântica. As marcas
da luz na solução de prata eram mais perfeitas que os pincéis.
Mas não é nesta confrontação técnica que o problema do mundo
se encontrava. Embora Picasso e sua era pensassem que fosse. A questão do mundo
era política: a pobreza devastava as famílias e, no entanto, nunca houvera
época anterior com tanta capacidade produtiva quanto as máquinas.
Picasso estava no cerne da revolução. Estava e não sabia que
ela fosse política. As marchas nazifascistas nada lhes despertavam de
consciência. A sua Espanha sangrava entre a força progressista da República
Democrática e o reacionarismo militante da igreja medieval aliada de
latifundiários e forças armadas de longos nomes com o de Picasso.
Mas, segundo a BBC, havia um antecedente político a
infernizar a revolução estética de Picasso. Era igualmente Espanhol. Chamava-se
Francisco Goya denunciando em sua pintura a luz maligna da destruição e da
perversidade destrutiva das elites ameaçadas. E Picasso visitou sua Espanha
aflita.
O famigerado surrealista Salvador Dali aderira às hostes
reacionárias. Picasso foi convocado, mas recusou-se. Quando já em Paris uma
bomba atingiu o Museu do Prado e seu fabuloso acervo. Picasso aceitou ser
diretor do mesmo e transferiu muitas obras para Valencia. Uma das províncias
republicanas.
Numa tarde o território Basco espanhol foi palco de um teste
Alemão e Italiano sobre convocação de Francisco Franco o grande ditador do
século XX espanhol. Bombas lançadas por aviões, arrasaram a pequena, desarmada,
inofensiva, sem qualquer importância estratégica ou tática povoação de
Guernica.
Nada ficou em pé. Morreu tanta gente quanto os palestinos em
Gaza atualmente. Um cronista inglês descreveu a cena e suas consequências.
Fotografou os escombros. Picasso viu a matéria num jornal de Paris com a foto
expondo o deletério poder de destruição e de desgraça humana.
Era 1937. Espanhóis na resistência ao poder fascista
convocaram Picasso a se fazer presente com alguma manifestação no Pavilhão da
República na Exposição Internacional de Paris. Picasso começou com uma série de
postais cubistas, como uma história em quadrinhos que destruíam a imagem do
franquismo. Mas não deu consequência a esta história.
Começou, então, a pintar o grande Painel que é Guernica. Uma
construção cubista arrasadora e sem esperanças. Nela todo otimismo que pudesse
existir na pós-destruição é anulado com a decomposição figurativa da maldade
humana. Guernica é um profundo soco na moral, na ética e nos resultados do
capitalismo triunfante, embora em sua fase destrutiva.
O efeito da pintura é politicamente revolucionário. É uma
denúncia da moral argentária individualista que se assenhorou de todo o
arcabouço social e econômico. Por isso, conta uma lenda, que um oficial nazista
pressionando Picasso com as famosas incursões de amedrontamento, trazendo nas
mãos um postal da pintura perguntou a ele: “Você fez esta pintura?” Picasso
teria respondido: “Não, foram vocês!”
O fecho contínuo e não fabulado do espírito imoral do
sistema capitalista. Autoridades americanas, através de um conjunto de mentiras,
foram até a ONU anunciar a guerra ao Iraque. General Colin Powell se
antecipando à máquina de destruição em massa termina o anúncio e vai para uma
entrevista apocalíptica para iraquianos e terceiro mundistas.
Na sala em que daria a entrevista havia um grande painel
reproduzindo a pintura Guernica de Picasso. Os cínicos imundos cobriram a
pintura com um doce pano azul. As imagens do General não poderiam ser
reportadas diante daquela denúncia.
4 comentários:
Texto presente
Atesto minha alegria
Aceno pra tua ausência
Deixo ela ficar onde está!
É muito bom poder te abraçar
O PT será varrido e com ele os pseudos socialistas, os Dirceus, Genuínos e inominados, a Dilma e o Lula!
Diz a lenda que Guernica foi pintado com o mijo do Gen. Franco misturado ao vermelho. Ver em: espain painters glasg
O acaso não é mais que um dos polos de uma interdependência. Na natureza, onde impera o acaso, 0 que ´certo para natureza também o é para a sociedade. As leis econômicas de produção mercantil modificam-se de acordo com os diversos graus de desenvolvimento e da forma de produção.. Até hoje o produto domina o produtor, até hoje toda a produção social é regulada não por plano coletivo/socialista, mas por leis cegas que atuam com a força dos elementos, nas tempestades dos períodos de crise comercial. Com a escravidão do bolsa família veio a cisão da sociedade brasileiras e essa escravidão é no início franca e depois passa a ser disfarçada.
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