Que importam as eras. Uma criança sempre chega à sua por
memórias que se condensam em símbolos. Em símbolos que se misturam ao ser, que
dão sentido a ele ao dispô-lo num plano, nem sempre uma linha de tempo, mas
meteoros que riscam o céu.
O velho Cine Moderno. A porta que dava para os banheiros
vazava luz nas sessões matinais e a plateia gritava: feche aí. Lembro como se
fosse uma extensão de mim. Aquela plateia da sessão de uma hora, muito chegada
a uma série, a um cowboy preto e branco. Aos gritos, vaias e piadas.
E de repente uma cena no meio de um tumulto sem fim. Todas a
gafes de doer a barriga de tanto riso. E
aconteceu destas raras sessões, que abriam o universo do século XX para o
menino que vivia num tempo de passagem entre o século XVII e XIX. Se bem que
com inúmeros símbolos a lhes rodear a vida: máquina a vapor do engenho, o
trator, os automóveis e caminhões e até os restos do que fora no passado uma
iluminação elétrica.
O cena era uma tumulto qualquer, de filme que marcou-se como
Mexicano, mas poderia ser de qualquer outro país e a música devia ser Chá Chá
Chá de La Segretaria. Ou então não foi no cinema foi no rádio. Mas o símbolo
que se marcou foram as sessões das 10 e 13 horas no Cine Moderna.
Fui a muito poucas. Assim era a vida de um menino de sítio.
Mas foram suficientes para serem muitas. E o Chá Chá cuja cena lembro com muito
riso é uma canção de Renato Carosone.
Chá Chá Chá de la Segretaria - Renzo Arbore - composição Renato Carosone.
Renato Carosone é o encontro entre as culturas pela
divulgação do disco e rádios. Renato Carosone compõe um cha cha. Ele um
napolitano típico. Um dos mais reconhecidos músicos italianos na metade do
século XX. Formado em Conservatório de Música, Carosone viveu a migração italiana
que foi para o chifre da África. Especialmente com aventura de Mussolini na
Etiópia. E Carosone ficou por lá. Só voltou à Itália após o fim da guerra. Formou
grupos musicais de grande sucesso.
Um dos sucessos mundiais de Renato Carosone foi este que segue abaixo:
Tu vuo fa L´Americano - Renato Carosone com vemos uma letra em puro dialeto.
Aqui a mesma canção num filme americano em que aparece Sofia Loren.
O chá-chá-chá é uma variação do Mambo. É cubana da gema.
Como é típico daquela cultura é uma música e uma dança. Assim como o mambo, o
merengue e outros ritmos cubanos. Quem a lançou foi o músico cubano Enrique
Jorrin. A música fundadora do ritmo seria La Engañadora.
La Engañadora - Orquestra Americana - Enrique Jorrin.
O nome chá-chá-chá vem do ruído do reco-reco que em Cuba
chama-se güiro juntando-se ao ruído do dançarino arrastando os pés no chão.
Renzo Arbore é um artista multi-disciplinar. Conduziu
grandes programas na televisão, especialmente humorísticos, que lançou
grandes nomes da cultura italiana, incluindo Isabela Rosselini. Um showman de
primeira. Domina o palco como poucos. Diretor de cinema. Músico. Cantor. E fundou
a orquestra italiana com 15 músicos para divulgar a canção napolitana. Aqui novamente a abertura musical do povo italiano, com uma melodia que um samba brasileiro sem defeito algum. Além do mais bem humorado pondo o som da sílaba final da cacau em todas as palavras.
Cacao Meravigliao - Renzo Arbore
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