As próximas eleições serão disputadas no clima de dois
projetos nacionais com manifestações nas intermediárias para usar um linguagem
futebolística. Acontece que o Brasil não parece apresentar uma terceira via
para a grande polaridade que acontece desde a Constituição de 1988 que
seguramente pode ser dividido entre Esquerda e Direita a considerar as configurações
do decorrer dos anos.
O problema da terceira via é a falta de um efetivo projeto
que conduza este continente em direção a uma sociedade ampla e funcional do
ponto de vista econômico e social. Por isso à terceira via resta o abraço de
urso de uma defesa amorfa e antiprogressista do jogo e que tão bem foi
caracterizada nos anos da Constituinte com o nome de Centrão.
Em outras palavras o “destino manifesto” de figuras como
Marina Silva é o abraço ao Centrão, como foi Collor e será toda candidatura sem
lastro social e institucional. Serão condutores de instabilidade política,
depositários de fantasias e eventuais revoltas, mas todas comandadas pelos
conservadores e sua mídia de fazer cabeça.
Por isso a disputa mesmo acontecerá entre o projeto nacional
trabalhista que tem o trabalhador e todas as classes sociais mais pobres, assim
como setores do empresariado nacional e dos pequenos produtores como lastro
social. A outra ponta da disputa é o empresariado de grande porte, com um pé na
globalização financeira, aliado de fundamentos teóricos da livre iniciativa e
mercado autorregulado segundo pensamento de economistas lastreados em algumas
instituições.
O núcleo duro do projeto trabalhista são as leis de proteção
ao trabalho e às classes sociais mais vulneráveis, o desenvolvimento nacional
autônomo e solidário aos países pobres e, portanto, independente do modelo imperial
mantido pelos EUA e a Europa Ocidental. Já o núcleo duro do projeto empresarial
são a flexibilização das leis do trabalho, a redução de impostos para os mais
ricos, a abertura das compras públicas e da economia nacional aos negócios
estrangeiros, o alinhamento automático ao sistema imperial com suas zonas de
livre mercado do tipo Aliança do Pacífico ou o que foi pensado a longo prazo
como a ALCA.
Esta é a disputa que irá se apresentar nas próximas
eleições. Em todos os entes federativos e será a fonte de financiamento para o
parlamento em todos os estados e para a União. Por isso a dificuldade de se
aprovar a reforma eleitoral. O “capital” precisa financiar seus candidatos para
a continuação da luta que se sabe acontecerá no momento da disputa eleitoral,
mas no entanto, é mais intensa e real na gestação e direção do governo.
O Tasso Jereissati bem lembrado no artigo do Zé Nilton faz
parte deste jogo. Não cria uma terceira via, o que FHC tem dito em artigos
recentemente reflete o desespero do PSDB em continuar sendo a matriz sólida do
projeto empresarial. E Tasso é isso. Por isso se compreende as posturas divergentes
entre Cid e Tasso nas opções futuras em relação a Eduardo Campos. O Cid se
aproxima da Dilma e o Tasso do Eduardo. O Eduardo Campos pensa em ocupar um
lugar na disputa mas lhes restando o espaço do projeto empresarial em face da
dificuldade teórica e prática da terceira via.
Eduardo, hoje, está numa corda banda, entre a separação
litigiosa de quem lhe deu tanto a mão, que é o Lula e o seu próprio futuro
político ocupando uma vaga no projeto empresarial junto a Tasso, Agripino Maia,
Artur Virgílio, Aécio Neves e FHC. Em outras palavras o jogo é nacional.
O interessante é o que resta ao José Serra. Vivendo um
aperto político de provocar dó. Não tem condição de bancar uma candidatura no
projeto empresarial, de empolgar uma campanha independente pelo Centrão pois o
espaço é historicamente mais apropriado a Marina Silva. Não é adivinhação, é o
espaço da política: se tiver alguma visibilidade no futuro, não é impossível
até que se veja o Serra, pelo rancor dos seus companheiros que o maltratarão,
servindo combustível para campanha da Dilma ou do projeto trabalhista.
Uma palavra é sobre as prefeituras que serão arrastadas pela
força da disputa nacional. O prefeito que se tomar por independente vai sumir da
visão do público eleitor. Se ele se exime de ser liderança política municipal
nesta disputa será um figura apagada nas próprias eleições municipais que virão
dois anos após. Não é possível, após cruzar a metade do primeiro ano do seu
governo, que o prefeito continue com medo de alianças e se mantenha como um
burocrata apenas consertando os malfeitos dos antecessores. A fase agora é
mostrar seu rosto político para o seu projeto de governo. O povo tem que sentir
este governo. Por mais que galvanize por algum momento o debate, não é a troca
de um local de festas de um terreno para outro que dará face a um governo.
E não falei das manifestações nas intermediárias. Elas terão
o poder de radicalizar a disputa, de estimular as extremidades para ação. O que
é mais importante nas manifestações acontecidas até agora é que no campo das
ruas surgiram novas ações, como lutas corporais, depredações, saques,
expropriações e confronto direto em todos os campos. Isso poderá ressurgir com
novas figurações na disputa. Além é claro de um bando de aloprados soltando
vozes de fel na internet e se achando o Deus dos acontecimentos.
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