por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 6 de agosto de 2013

A disputa é nacional - José do Vale Pinheiro Feitosa

As próximas eleições serão disputadas no clima de dois projetos nacionais com manifestações nas intermediárias para usar um linguagem futebolística. Acontece que o Brasil não parece apresentar uma terceira via para a grande polaridade que acontece desde a Constituição de 1988 que seguramente pode ser dividido entre Esquerda e Direita a considerar as configurações do decorrer dos anos.

O problema da terceira via é a falta de um efetivo projeto que conduza este continente em direção a uma sociedade ampla e funcional do ponto de vista econômico e social. Por isso à terceira via resta o abraço de urso de uma defesa amorfa e antiprogressista do jogo e que tão bem foi caracterizada nos anos da Constituinte com o nome de Centrão.

Em outras palavras o “destino manifesto” de figuras como Marina Silva é o abraço ao Centrão, como foi Collor e será toda candidatura sem lastro social e institucional. Serão condutores de instabilidade política, depositários de fantasias e eventuais revoltas, mas todas comandadas pelos conservadores e sua mídia de fazer cabeça.

Por isso a disputa mesmo acontecerá entre o projeto nacional trabalhista que tem o trabalhador e todas as classes sociais mais pobres, assim como setores do empresariado nacional e dos pequenos produtores como lastro social. A outra ponta da disputa é o empresariado de grande porte, com um pé na globalização financeira, aliado de fundamentos teóricos da livre iniciativa e mercado autorregulado segundo pensamento de economistas lastreados em algumas instituições.

O núcleo duro do projeto trabalhista são as leis de proteção ao trabalho e às classes sociais mais vulneráveis, o desenvolvimento nacional autônomo e solidário aos países pobres e, portanto, independente do modelo imperial mantido pelos EUA e a Europa Ocidental. Já o núcleo duro do projeto empresarial são a flexibilização das leis do trabalho, a redução de impostos para os mais ricos, a abertura das compras públicas e da economia nacional aos negócios estrangeiros, o alinhamento automático ao sistema imperial com suas zonas de livre mercado do tipo Aliança do Pacífico ou o que foi pensado a longo prazo como a ALCA.

Esta é a disputa que irá se apresentar nas próximas eleições. Em todos os entes federativos e será a fonte de financiamento para o parlamento em todos os estados e para a União. Por isso a dificuldade de se aprovar a reforma eleitoral. O “capital” precisa financiar seus candidatos para a continuação da luta que se sabe acontecerá no momento da disputa eleitoral, mas no entanto, é mais intensa e real na gestação e direção do governo.

O Tasso Jereissati bem lembrado no artigo do Zé Nilton faz parte deste jogo. Não cria uma terceira via, o que FHC tem dito em artigos recentemente reflete o desespero do PSDB em continuar sendo a matriz sólida do projeto empresarial. E Tasso é isso. Por isso se compreende as posturas divergentes entre Cid e Tasso nas opções futuras em relação a Eduardo Campos. O Cid se aproxima da Dilma e o Tasso do Eduardo. O Eduardo Campos pensa em ocupar um lugar na disputa mas lhes restando o espaço do projeto empresarial em face da dificuldade teórica e prática da terceira via.

Eduardo, hoje, está numa corda banda, entre a separação litigiosa de quem lhe deu tanto a mão, que é o Lula e o seu próprio futuro político ocupando uma vaga no projeto empresarial junto a Tasso, Agripino Maia, Artur Virgílio, Aécio Neves e FHC. Em outras palavras o jogo é nacional.

O interessante é o que resta ao José Serra. Vivendo um aperto político de provocar dó. Não tem condição de bancar uma candidatura no projeto empresarial, de empolgar uma campanha independente pelo Centrão pois o espaço é historicamente mais apropriado a Marina Silva. Não é adivinhação, é o espaço da política: se tiver alguma visibilidade no futuro, não é impossível até que se veja o Serra, pelo rancor dos seus companheiros que o maltratarão, servindo combustível para campanha da Dilma ou do projeto trabalhista.

Uma palavra é sobre as prefeituras que serão arrastadas pela força da disputa nacional. O prefeito que se tomar por independente vai sumir da visão do público eleitor. Se ele se exime de ser liderança política municipal nesta disputa será um figura apagada nas próprias eleições municipais que virão dois anos após. Não é possível, após cruzar a metade do primeiro ano do seu governo, que o prefeito continue com medo de alianças e se mantenha como um burocrata apenas consertando os malfeitos dos antecessores. A fase agora é mostrar seu rosto político para o seu projeto de governo. O povo tem que sentir este governo. Por mais que galvanize por algum momento o debate, não é a troca de um local de festas de um terreno para outro que dará face a um governo.

E não falei das manifestações nas intermediárias. Elas terão o poder de radicalizar a disputa, de estimular as extremidades para ação. O que é mais importante nas manifestações acontecidas até agora é que no campo das ruas surgiram novas ações, como lutas corporais, depredações, saques, expropriações e confronto direto em todos os campos. Isso poderá ressurgir com novas figurações na disputa. Além é claro de um bando de aloprados soltando vozes de fel na internet e se achando o Deus dos acontecimentos.


Nenhum comentário: