Será que um tratado científico
poderia explicar o fenômeno? Onde está ou qual seria o estopim para o início
das revoltas? As justificativas tradicionais indicam que as manifestações
populares, pacíficas ou não, ocorrem pelos mais diversos motivos: corrupção,
exploração, injustiças, roubalheiras, más governanças, são sempre citadas.
Acontece que esses fatos convivem com os
homens deste que eles se organizaram em sociedades, e nem por isso, todo dia
tem manifestação. A escravidão, por exemplo, símbolo de todos esses males era
tolerada e admitida nas sociedades. Mesmo repudiada por muitos e terrível para
os escravos, que apesar de terem todo direito, raramente se revoltavam, as mais
conhecidas revoltas, entre nós, são a de Espártaco em Roma e a de alguns poucos
quilombos. Na carnificina nazista da Alemanha, os prisioneiros dos campos de
concentração, apesar de saberem o que os esperavam, que em muitos campos a
vigilância era precária, poucas vezes se revoltavam. A mais famosa revolta foi
a do gueto judeu de Varsóvia. A grande manifestação popular que culminou com a
queda da Bastilha, símbolo da revolução francesa foi creditada ao desgoverno do
Rei, privilégios e roubalheiras da nobreza e injustiças. As grandes
manifestações populares contra a guerra do Vietnam ocorridas nos anos 60 e 70
do século passado eram obviamente pela paz. As grandes manifestações pela
independência da Índia, a derrubada do Xá Mohammed Reza Pahlevi da Pérsia, em
1979, como a do Czar Nicolau II, este,
ao mesmo tempo, Imperador da
Rússia, rei da Polônia e grão-duque da
Finlândia, em 1917, como a da Bastilha, tem em comum o fato do
desgaste do governo, desordem econômica, social e administrativa e, claro,
grande corrupção e mudança radical nos regimes políticos. Nos três países o ato
final da queda das respectivas monarquias foram as imensas manifestações
populares onde a multidão enfrentou a polícia e parte do exército. De peito
aberto, e recebidos à bala, os manifestantes que vinham atrás pulavam sobre os
cadáveres dos caídos e seguiam em frente até dominarem os contingentes armados.
Os exemplos são muitos, as lutas
justas. Aqui tivemos grandes manifestações populares e muitas pacíficas, como
as campanhas O Petróleo é nosso, Contra a
ditadura, Pela anistia, Diretas já, Fora Collor e essas atuais são exemplos
marcantes.
Mas a resposta à pergunta inicial
fica em aberto. Nesse momento por que vamos às ruas? Além dos tradicionais
motivos, será, também, porque desejamos encontrar um culpado real, no caso o
governo, que incentivou o consumo e consequente endividamento da classe média
sem o respectivo incremento salarial para cobrir os custos extras? Será que deixamos a resignação de lado quando
vislumbramos alguma possibilidade de sucesso, quando compreendemos que não
dependemos do governo, para pelo menos sobreviver, e aí sim vale a pena ir à
luta por um presente e futuro melhores?
Nenhum comentário:
Postar um comentário