Estou pagando uma dívida a meus eventuais leitores. Em
texto de semanas passadas me propus a levantar a questão se o Brasil poderia
ter um papel diferente mesmo considerando as condicionantes do capitalismo
mundial e sua história. Isso é do interesse dos brasileiros, especialmente
quando pensamos numa sociedade mais igualitária dentro do nosso país.
Acho que todo desvio da ideia de igualdade como o pódio do
mérito, a diferença racial, de sexo, de religião, de naturalidade, de herança
de riquezas e outros tantos que pretendem promover privilégios, devem ser
compreendidos e controlados. Somos todos iguais, com nossas idiossincrasias,
mas literalmente temos o mesmo potencial de viver em paz e como os recursos e
meios necessários.
Toda vez que alguém começa a considerar os gritos dos
vizinhos como o empecilho para o próprio crescimento, estranhar a oração do
outro, ter ódio do livre pensar ou mesmo desejar sobretudo explorar e ganhar
dinheiro a custas de outros, a desigualdade não é simplesmente ampliada, ela na
verdade é negada, sabotada e violentamente atacada.
Enfim, o Brasil para exercer um novo paradigma num futuro
sistema capitalista mundial precisa viver, antes de tudo, uma sociedade
igualitária. Se não temos os mesmos objetivos para nordestinos, sulistas e
nortistas, algo grave ocorre no país. Se a classe média mais ilustrada apenas
imagina nos moradores das periferias urbanas como mero serviçais para suas
casas, ainda teremos muito para educar desta ilustração que não compreendeu ainda
o verdadeiro sentido do que é o ser humano.
Somente na expectativa de vivermos uma sociedade igualitária
é que podemos nos colocar como potência mundial em face de novos paradigmas
para o sistema capitalista mundial. Há meses passados estava com um motorista
chileno em longa conversa e ele como homem de direita e acostumado a
transportar brasileiros que têm a mesma identidade política, veio o Lula por
ter cedido naquela questão da Bolívia.
Aí eu disse que o melhor para o Brasil seria ter uma grande
relação com os países da América do Sul sem exercer a ganância do imperialismo
americano. Seria fácil ao Brasil pressionar a Bolívia, inclusive facilitando a
vida das multinacionais francesas, inglesas, holandesas e outras mais, no
sentido de desmoralizar um país pobre e sem condições de se defender. Mas isso
seria negar igualmente aos mais pobres do Brasil. Os estados que sempre ficaram
à margem, por exemplo, da enorme potência que é a economia paulista.
A igualdade entre os brasileiros é o norte para que grandes
projetos internacionais do Governo ou das empresas brasileiras se exerçam sob
bases mais humanas e voltadas para o desenvolvimento humano. Por isso se luta
tanto o desde os anos 30 com leis trabalhistas, da previdência social, da
defesa do índios e assim por diante. A educação pública, a saúde pública, a
segurança e o transporte público como eixos para a igualdade. Além do estímulo
à criatividade por um trabalho em condições de dignidade por empreendedorismo
coletivo cooperativado visando sempre o bem comum.
Essa é apenas uma parte conceitual, de um arcabouço muito
maior e que precisa ser enfocado em toda a sociedade brasileira para que
possamos pensar no que o professor da UFRJ José Luís Fiori afirma. “Sempre
existirá um imenso espaço de liberdade e de invenção revolucionária para o
Brasil: descobrir como projetar seu
poder e sua liderança fora de suas fronteiras sem seguir o figurino tradicional
das grandes potências. Ou seja, sem reivindicar nenhum tipo de “destino
manifesto”, sem utilizar a violência bélica dos europeus e norte-americanos, e
sem se propor conquistar qualquer povo que seja, para “convertê-lo”, “civilizá-lo”,
ou simplesmente comandar o seu destino.”
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