Eu vou pro Crato - Luiz Gonzaga - composição Luiz Gonzaga e José Jatai
Seu Luiz o povo comemora seus cem anos de nascimento. Eu
queria que visse o quanto é bonito o que dizem. Fizeram um filme sobre a sua
vida, incluindo o Gonzaguinha e só tenho ouvido elogios. Os jovens que assistem
ficam deslumbrados com sua história, contada do jeito que o diretor contou. Mas
eu acho que o elogio não vai só pelo diretor, é pelo senhor ter existido.
É mesmo seu Luiz. Para surpresa dos que se aperreiam por
esta seca que devora o povo do seu sertão, surpresa por quem se afoga de água
aqui pelo sudeste. É a surpresa mesmo que nos leva a compreender o amor de um
jovem, rodando aí pela casa dos vinte anos, diante da narrativa do filme.
Isso é explicado como se fosse a sombra do Juazeiro
guardando o verde que foi estorricado em tudo que está em volta. É o peso
imortal da cultura, da alma de um povo, do eterno enquanto ação de uma vida. O
que chama atenção é que diante desta avalanche de novidades de hoje, venha um
jovem a se identificar com tudo que é carinho pelo senhor e pelos seus.
Seu Luiz é nos grandes salões e na televisão, além do cinema
que seu nome circula por todos os cantos do nosso país. É possível que se faça,
mas é quase impossível para um vivente tomar conhecimento da quantidade de
vezes que homenagens lhes são prestadas, nas praças, bairros e ruas deste
Brasil que não é um país: é um continente.
Quando vejo a tempestade de lembranças sobre o seu
centenário, eu quero a calma que diz: não se trata apenas de um espasmo que
antecede ao esquecimento. E sabe o motivo pelo qual posso ficar calmo? É que já
vi o senhor no contraponto de tantas lembranças e homenagens.
Andando pelas ruas do Crato sem que viessem lhe pedir a
bênção por tudo que fizera ao povo dos sertões. O senhor no posto de gasolina
tirando o pneu para remendar o furo na câmara de ar. O senhor em frente ao
Hotel Tabajara, na beira da calçada, cubando o movimento da rua e tão
intensamente anônimo como parecemos nas vias do mundo.
Foi, por incrível que lhe pareça, naquele esquecimento que
encontrei a raiz da força que o senhor tinha junto ao povo. A capacidade de ser
um sertanejo de eito novamente. De pensar nas chuvas, de curar bicheira de
animal. De dormir junto ao silêncio da seca e aos borbotões das vozes do
inverno.
A lembrança e o esquecimento são as faces da mesma moeda,
pois entre uma face e outra tudo é moeda. E sua moeda foi revelar ao Brasil,
trazer para o centro das transformações, o seu arcaico sertão não como amostra
inerte da vida, ao contrário, como a vida sem receio do mundo que muda. Sempre
muda.
E nós lá.
2 comentários:
meus cumprimentos ao seu luiz e ao doutor zé do vale.
beleza de texto escrito com alma sertaneja.
E pensar que vamos começar janeiro sem seus textos...
Ainda bem q não é pra sempre.
Luiz do lado de lá.
Você do lado de cá.
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