Uma melancolia assim como o adeus ao dia, a impossível visão
após a curva da estrada, queimar o presente enquanto chora o borralho de ontem.
Assim me sinto quando alguém com mais anos de vida recusa-se a entender uma
canção atual, a expressão profundamente artística de uma geração e sua era.
Melancolia igual a um jovem com a arrogância de descobridor que
desliga sua atenção de alguma canção antiga. Não se pode querer a mesma
linguagem, os mesmos sentimentos e nem valores sustentados. O que se pressente
é a natureza do tempo através das canções e quem não o faz cessa em algum ponto
estacionário. É perder a canção, não saber ouvi-la para compreender o tempo
desta canção. E quem não compreender tal tempo nunca o entenderá em qualquer
ponto da continuidade de sua evolução.
Na ópera madame Butterfly existe um dos coros mais belos que
se conhece: coro a bocca chiusa. De Giacomo Puccini um dos mais pródigos
compositores de ópera e com as mais belas melodias entre todas. Só para lembrar:
O mio babbino caro de Gianni Schicchi; Che gelida manina da La Bohéme; E
lucevan la stella da Tosca ou o Nessum dorma de Turandot sua última ópera.
Retornando ao coro à boca fechada de Madame Butterfly.
Inspirado nesta canção o compositor Dino Olivieri, com letra de Nino Rastelli
compôs em 1936 a canção Tornerai lançada em disco pelo Trio Lescano e Quarteto
Funaro. Dino era maestro, viveu da música e compôs sucessos como C´è un uomo im mezzo al
mare.
Tornerai é uma das canções mais belas dos fortes tempos do
início da segunda guerra mundial. Já em 1938 se tornou uma canção francesa com
o nome de J´Attendrai na voz de Rina Ketty. Daí em diante a canção estourou e
foi gravada por Jean Sablon, Tino Rossi, Django Reinardt, Bing Crosby e muitos
outros, inclusive uma versão recentíssima com Antonella Ruggiero.
Vamos começar pela versão italiana com Carlo Buti.
Tornarás
para o único sonho
Do meu
coração
Tornarás
Tu, porque
sem o teu
Beijo lânguido
não vivo.
Passa o
tempo e tu,
Onde estás
com quem será
Tu não pensa
em nós
Mas eu só
sei de mim,
Tornarás.
De mim
porque é o único sonho,
Do meu
coração
Tornarás
Tu porque
sem os teus
Beijos lânguidos
não vivo.
Passa o
tempo e tu
Onde sei
como sei
Tu não pensa
em nós,
Mas eu sei
que a mim tornarás.
E era uma
canção dos tempos de separação. Nada do que era continuou a ser. Mas a
esperança, o desejo de naquele mundo de destruição e separação tudo retornar à
essência de nós. Nós, vós, eles. E certo que o caos humano ainda continua sendo
a via para se respirar.
Em 1938 Rina
Ketty foi encontrar o mesmo sentido na versão com o título de J´Attendrai.
Eu vou
esperar,
O dia e a
noite
Eu esperarei
todos eles,
O teu
retorno.
Eu
esperarei,
O pássaro
que se foi
Veio a esquecer-se
Do seu
ninho.
Os tempos
passam e breves
Batendo
tristemente
No meu
pesado coração
O teu
retorno.
O vento aporta
Os ruídos longínquos.
Balançando
minha porta
Eu escuto em
vão,
De lá, nada
vem
Jamais algo vem
E as línguas da velha Europa ecoaram seus desejos de retorno
por todos os lados.
Como esse Komm Zurück da versão alemã:
Além desse Věřím
Vám da versão checa
E até essa suave chopiniana Czekam CI da versão polonesa
Ou esse Blott för dig da versão sueca
Um comentário:
Linda canção!
Quase me derramo m cima da poesia. Guardei a melodia...Ela aprende o que não se diz.
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