por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 30 de outubro de 2012

Tornarás - José do Vale Pinheiro Feitosa


Uma melancolia assim como o adeus ao dia, a impossível visão após a curva da estrada, queimar o presente enquanto chora o borralho de ontem. Assim me sinto quando alguém com mais anos de vida recusa-se a entender uma canção atual, a expressão profundamente artística de uma geração e sua era.

Melancolia igual a um jovem com a arrogância de descobridor que desliga sua atenção de alguma canção antiga. Não se pode querer a mesma linguagem, os mesmos sentimentos e nem valores sustentados. O que se pressente é a natureza do tempo através das canções e quem não o faz cessa em algum ponto estacionário. É perder a canção, não saber ouvi-la para compreender o tempo desta canção. E quem não compreender tal tempo nunca o entenderá em qualquer ponto da continuidade de sua evolução.

Na ópera madame Butterfly existe um dos coros mais belos que se conhece: coro a bocca chiusa. De Giacomo Puccini um dos mais pródigos compositores de ópera e com as mais belas melodias entre todas. Só para lembrar: O mio babbino caro de Gianni Schicchi; Che gelida manina da La Bohéme; E lucevan la stella da Tosca ou o Nessum dorma de Turandot sua última ópera.

Retornando ao coro à boca fechada de Madame Butterfly. Inspirado nesta canção o compositor Dino Olivieri, com letra de Nino Rastelli compôs em 1936 a canção Tornerai lançada em disco pelo Trio Lescano e Quarteto Funaro. Dino era maestro, viveu da música e compôs sucessos como C´è un uomo im mezzo al mare.

Tornerai é uma das canções mais belas dos fortes tempos do início da segunda guerra mundial. Já em 1938 se tornou uma canção francesa com o nome de J´Attendrai na voz de Rina Ketty. Daí em diante a canção estourou e foi gravada por Jean Sablon, Tino Rossi, Django Reinardt, Bing Crosby e muitos outros, inclusive uma versão recentíssima com Antonella Ruggiero.

Vamos começar pela versão italiana com Carlo Buti.



Tornarás para o único sonho
Do meu coração
Tornarás
Tu, porque sem o teu
Beijo lânguido não vivo.

Passa o tempo e tu,
Onde estás com quem será
Tu não pensa em nós
Mas eu só sei de mim,
Tornarás.
  
De mim porque é o único sonho,
Do meu coração
Tornarás
Tu porque sem os teus
Beijos lânguidos não vivo.

Passa o tempo e tu
Onde sei como sei
Tu não pensa em nós,
Mas eu sei que a mim tornarás.

E era uma canção dos tempos de separação. Nada do que era continuou a ser. Mas a esperança, o desejo de naquele mundo de destruição e separação tudo retornar à essência de nós. Nós, vós, eles. E certo que o caos humano ainda continua sendo a via para se respirar.

Em 1938 Rina Ketty foi encontrar o mesmo sentido na versão com o título de J´Attendrai.


Eu vou esperar,
O dia e a noite
Eu esperarei todos eles,
O teu retorno.

Eu esperarei,
O pássaro que se foi
Veio a esquecer-se
Do seu ninho.

Os tempos passam e breves
Batendo tristemente
No meu pesado coração
O teu retorno.

O vento aporta
Os ruídos longínquos.
Balançando minha porta
Eu escuto em vão,
De lá, nada vem
Jamais algo vem


E as línguas da velha Europa ecoaram seus desejos de retorno por todos os lados.
Como esse Komm Zurück da versão alemã:


Além desse Věřím Vám da versão checa


E até essa suave chopiniana Czekam CI da versão polonesa




Ou esse Blott för dig da versão sueca


Um comentário:

socorro moreira disse...

Linda canção!
Quase me derramo m cima da poesia. Guardei a melodia...Ela aprende o que não se diz.