por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Primavera - José do Vale Pinheiro Feitosa


Primavera - Tim Maia

Qual tradução diz em português que Sprung é estalado e nisso me aprisiono como quebrado, rachado e esqueço que aos ovos fritos se diz estalado ou estrelado que é a fusão e a não rachadura entre a gema e a clara? É que Sprung tem o mesmo significado de apaixonado e isso gira entre a rachadura da minha individualidade em função dela, como a derreter a paz firme do gelo da existência numa dor permanente de primavera a brotar milhares de vida dentro de mim. E vida é necessidade permanente dos elementos: da luz, da água, das plantas e das carnes.

Ali naquela palavra além da primavera se encontra a mola que mesmo corrompida em sua forma por compressão ou estiramento, retorna à forma original. Em Spring se tem as água que brotam do chão. E por isso se tornam fonte, o nascedouro de algo. Pois tudo é a emergência do novo, de algo, da vida, dos fenômenos. O salto repentino a surgir na cena.

E daí tantas ações traduzem o homem: mover, saltar, desenvolver, crescer, produzir, divulgar de súbito, revelar, descobrir, apresentar evidências e assim por diante. E onde isso tudo se encontra?

Na dança da dualidade, entre eu e ela, esta exuberância de individualidade a gerar movimentos repentinos a tudo mudar como a conjugar-se como uma mola em que tudo retorna ao original modificado apesar das compressões e descompressões.

Mesmo no éter que norteia este impreciso para o qual marchamos o sorriso dela se encontrará em meus sonhos. Como um documento de identidade carimbado com o irremovível rosto dela. Este tempo sem ela que se torna espera ou com ela a louvar completude. A crônica doença cuja cura é a presença dela. O perfume que rouba o presente, a música que expõe saudade e a sessão de cinema que se tornou um símbolo histórico da nossa companhia. É querer viver tudo de novo até quando o universo retornar à singularidade antes do big bang.  

Fechar os desaguadouros por onde ela poderia pegar algum atalho. Um atalho em que não esteja junto a ela. E desejar uma trovoada de notícias para compartilhar tudo, mas tudo mesmo, que ela não viu, não ouviu e não sentiu junto a mim. Provar o fel da solidão como um conceito das noites em que ela não se deitou comigo.  

O silêncio de sua voz na mudez destas chamadas telefônicas. A tela de mensagens ausentes nas redes sociais e nos arcaicos cartões de natal. Este gosto de primavera a sentir o ígneo de nossos corpos suados. O Xangri-lá do peso da cabeça dela sobre meu ombro deitado.

Tudo a rachadura de mim na partilha necessária para fundir partículas de primavera. Eles numa cadeia de nove meses de gestação. 

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