Primavera - Tim Maia
Qual tradução diz em português que Sprung é estalado e nisso
me aprisiono como quebrado, rachado e esqueço que aos ovos fritos se diz
estalado ou estrelado que é a fusão e a não rachadura entre a gema e a clara? É
que Sprung tem o mesmo significado de apaixonado e isso gira entre a rachadura
da minha individualidade em função dela, como a derreter a paz firme do gelo da
existência numa dor permanente de primavera a brotar milhares de vida dentro de
mim. E vida é necessidade permanente dos elementos: da luz, da água, das
plantas e das carnes.
Ali naquela palavra além da primavera se encontra a mola que
mesmo corrompida em sua forma por compressão ou estiramento, retorna à forma
original. Em Spring se tem as água que brotam do chão. E por isso se tornam
fonte, o nascedouro de algo. Pois tudo é a emergência do novo, de algo, da
vida, dos fenômenos. O salto repentino a surgir na cena.
E daí tantas ações traduzem o homem: mover, saltar,
desenvolver, crescer, produzir, divulgar de súbito, revelar, descobrir,
apresentar evidências e assim por diante. E onde isso tudo se encontra?
Na dança da dualidade, entre eu e ela, esta exuberância de
individualidade a gerar movimentos repentinos a tudo mudar como a conjugar-se como
uma mola em que tudo retorna ao original modificado apesar das compressões e
descompressões.
Mesmo no éter que norteia este impreciso para o qual
marchamos o sorriso dela se encontrará em meus sonhos. Como um documento de
identidade carimbado com o irremovível rosto dela. Este tempo sem ela que se
torna espera ou com ela a louvar completude. A crônica doença cuja cura é a
presença dela. O perfume que rouba o presente, a música que expõe saudade e a
sessão de cinema que se tornou um símbolo histórico da nossa companhia. É
querer viver tudo de novo até quando o universo retornar à singularidade antes
do big bang.
Fechar os desaguadouros por onde ela poderia pegar algum
atalho. Um atalho em que não esteja junto a ela. E desejar uma trovoada de
notícias para compartilhar tudo, mas tudo mesmo, que ela não viu, não ouviu e
não sentiu junto a mim. Provar o fel da solidão como um conceito das noites em
que ela não se deitou comigo.
O silêncio de sua voz na mudez destas chamadas telefônicas.
A tela de mensagens ausentes nas redes sociais e nos arcaicos cartões de natal.
Este gosto de primavera a sentir o ígneo de nossos corpos suados. O Xangri-lá
do peso da cabeça dela sobre meu ombro deitado.
Tudo a rachadura de mim na partilha necessária para fundir
partículas de primavera. Eles numa cadeia de nove meses de gestação.
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