Antes a sala era cheia. Barulhenta. Brigava-se por dores
históricas ou por vaidades passageiras. Alguém sacava uma poesia e a reação se
decompunha em encantos, desencantos, tédios e beicinhos pela qualidade
literária da obra. Era doloroso até, mas havia gritos, silêncios e sussurros.
Uma boia flutuando ou uma pedra afundando.
Mas hoje é como uma solidão. As vozes abandonaram os salões.
Deixaram solitários a esgrimir com as sombras de si mesmos. Os que não foram,
se recusaram a mudar de bairro, receberam convites de amizades e se recusaram.
Os aniversários foram lembrados e não acusaram o recebimento. E as fotos
anunciadas e não visitadas. E eles não foram. Ficaram como num eterno Clube da
Rapadura, num meio de semana, ali por volta das 22 horas do dia 24 de outubro
de 2012.
No outro lugar pulsam fofocas. Outros agentes a criar
acompanhantes. Mensagens curtas. Uma rede de interação como uma patota quais
aqueles que no velho salão ainda permanecem, tiveram. E tome a vaidade de uma
face, tipo aqueles book de candidatas a modelo fashion. E tem os pássaros que
não podem cantar. Apenas piar uma breve mensagem de seguidores.
Os que ficaram são démodés.
Os esquecidos na penumbra a falar apenas para suas próprias lembranças.
Estão num ambiente tão afeto ao contemporâneo, mas rigorosamente se vestem à
antiga e desconsideram as luzes, Lady Gaga e Michel Teló. Mas preferem a
solidão ao invés do coletivo a si oferecido.
São rigorosamente démodé
ao estilo Charles Aznavour. Sem solução para este tipo de corrente de bolhas de
sabão. Estão como num salão, com a música pop estourando os ouvidos, luzes de
laser a piscar, um clima de fumaça a gelo seco. Estão ali na ambiência, mas
retirando prazeres démodés.
Apesar dos ritmos loucos, corações encostados entre si.
Corpos colados, face fundida à face. Enquanto a multidão borbulha nos ritmos
loucos, separados dos ruídos, das ruínas que fragmentam, somos um todo escorregando
na vida com os olhos semifechados e assim vamos até o final da noite: face
fundida à face.
A pista de dança invadida é um espetáculo raro, os que
dançam estão em transe e a música ajuda. Os semblantes sobre a mesa de sacrifícios
dos ritmos bárbaros, aos ares de hoje em dia envolvendo frequentemente os
velhos de todos os tempos. Inclusive destes que cursam célere a atual
juventude.
Ambos são estrangeiros enquanto dançam, parecem lutar um contra
o outro. A música e o amor não fundem os corpos nesta penumbra propícia ao amor.
Então, carpe diem! Vamos descobrir os prazeres à moda antiga. Seu coração junto
ao meu, apesar dos ritmos loucos. Quero sentir teu corpo casado ao meu, face
contra face. Face suada à face.
Les Plaisirs Démodés - Charles Aznavour. Versão original dos anos 70, quando Aznavour mostrava na primeira parte os ritmos agitados das discotecas para em seguir entrar no ritmo romântico que era o tema da canção.
Um comentário:
Eu encaro o silêncio dos nossos salões como uma fase , onde a banda não passa.
Meu coração pulsa por renovação, inovação, conversação.
O coletivo salva o individualismo.
Ainda existimos!
Beijo.
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