Os blogs do Crato estão morrendo? Com terço nas mãos no meio
da noite? Um silêncio eleitoral quando se clamam por vozes, eles se calam. O
que seria uma vanguarda e um painel de ideias distintas se tornou um cantochão
litúrgico? Afinal os espíritos também admitiram a mortalidade tão certa e enrijecida
quanto uma fábrica de cerâmica? Isso reflete o tempo político-eleitoral da
cidade?
Entre as cidades da região, Juazeiro e Barbalha e comparativamente
a Sobral o resultado das eleições para vereador mostra o perfil mais frágil em
termos de liderança nos resultados auferidos nas urnas do Crato. Com uma câmara
de vereadores composta por 19 eleitos, a metade dos eleitos representa o
percentual mais baixo em relação ao total de votos válidos: Crato tem 20,05% (dos
9 para 19 eleitos), Juazeiro do Norte 26,61% (dos 10 para 21 eleitos), Barbalha
29,19% ( dos 7 eleitos para 15 eleitos) e Sobral 29,24%. O vereador do Crato
que teve mais votos auferiu 2,9% dos votos válidos, enquanto em Juazeiro o mais
votado teve 3,54%, em Barbalha 5,89% e Sobral 4,3%.
Mas isso reflete um passivo político conservador,
oligárquico, dirigindo a administração e a política para o mesmo grupo de
famílias e agentes econômicos. Junto com setores remanescente do poder rural,
do comércio de varejo e uma religiosidade tão avessa a mudanças igual foi no
passado, a cidade efetivamente parece desidratada em passado, mas não
necessariamente em futuro.
Claro que o enumerado não explica tudo, mas serve de guia
para pensarmos o futuro como algo que pode ser diferente. A eleição desse ano
não mostra nada de mudança nos resultados de ponta, mas efetivamente não aponta
um novo tempo. É um resultado meramente “administrativo”, mas de um significado
político surpreendente. Ganhou a proposta do “bom administrar” por efeito de
comparação com o “ruim administrar”.
Mas o problema não se encontra em administração, o problema
é efetivamente político. Como superar as enormes diferenças com relação aos
bairros populares, aos distritos, ao enorme impacto ambiental, especialmente
nas bacias hidrográficas, a pressão sobre as bordas da APA Araripe, a extração
de mineral, o consumo de madeiras, as fontes de água e agora o impacto sobre a
paisagem que se preparam com empreendimentos de usinas eólicas.
O bom administrar trás a marca do resultado que é fácil de
extrair em empresas, mesmo que em ambiente de concorrência. Mas na vida real
das pessoas o resultado é como direcionar recursos inelásticos para rapidamente
nivelar as diferenças abissais entre bairros de ricos e bairros de pobres como
a Batateira? Então aí é que o modismo administrativo vai esgotar-se em
contradições: os compromissos com a estirpe empresarial aponta o que todo
conteúdo privado aponta: para quem pode pagar. O exemplo da nossa SAAEC fugindo
do bem comum e da cota social, foi bem típico desta verve por resultados.
Enfim, os blogs não estão mortos, a cidade não está morta e na
contradição entre ricos e pobres, distritos e sede da cidade e entre bairros
populares e o centro bem atendido, reside o futuro. Onde a cidade pode se
reconstruir como opção política e como mobilidade social.
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