por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Guarânia da Saudade - José do Vale Pinheiro Feitosa


Vanguarda: uma pressa de viver. Descobrir quão mortas estão as normas tradicionais. Levantar-se por sobre o plasma da tirania. Mover-se adiante quando a retaguarda teima em atrasar a fuga da miséria e da opressão. A vanguarda é um facho a expor o caminhante nas trevas às feras conservadas no mesmo pasto em que sempre pastaram. Vanguarda não traduz a louca volúpia da velocidade, a montanha russa em átimo de emoção. Vanguarda é encontrar-se à frente diante da pontaria do primeiro tiro. Das presas a estilar veneno e com ódio mastigar toda luz que do facho se espalha.

Dito esse passo de vida, eis que numa “siesta” das tardes de ventos os sentidos lentamente retornam ao mundo onde se respira. A luz de fundo azul e verde se acende, o sopro das águas marinhas diz mundo, o farfalhar de galhos e folhas orquestram os ouvidos. Mas o despertar em corpo entorpecido infiltra-se numa vaga de retaguarda. O vasto verde do canavial, a calçada alta com seus degraus oferecendo todo o brejo do Rio Batateira.  O passado por inteiro injetado por uma música com sentimento de entardecer.

Guarânia da Saudade de Luiz Vieira na voz de Carlos José. Viver tem destas coisas. Uma escrita que teima em ser lida cada vez em maior solidão. Apenas eu, somente eu a compreendo, pois Guarânia alguma jamais interessará aos tempos presentes. Não que a música ouvida agora seja mais avançada e mais original, ao contrário, com alguma frequência. Mas viver é guardar pulsando algo incapaz de ocupar o mundo, vive incrustado na solidão do tempo vivido. Compreendes-me?

Um comentário:

socorro moreira disse...

Eu tenho poucos mundos...Mas vivo alguns, nas paralelas.Um deles é ponto de interseção com a saudade.
Como não entender, mesmo sem conseguir explicar?
Abraços, nobre escritor!