Vanguarda:
uma pressa de viver. Descobrir quão mortas estão as normas tradicionais.
Levantar-se por sobre o plasma da tirania. Mover-se adiante quando a retaguarda
teima em atrasar a fuga da miséria e da opressão. A vanguarda é um facho a
expor o caminhante nas trevas às feras conservadas no mesmo pasto em que sempre
pastaram. Vanguarda não traduz a louca volúpia da velocidade, a montanha russa
em átimo de emoção. Vanguarda é encontrar-se à frente diante da pontaria do
primeiro tiro. Das presas a estilar veneno e com ódio mastigar toda luz que do
facho se espalha.
Dito
esse passo de vida, eis que numa “siesta” das tardes de ventos os sentidos
lentamente retornam ao mundo onde se respira. A luz de fundo azul e verde se
acende, o sopro das águas marinhas diz mundo, o farfalhar de galhos e folhas orquestram
os ouvidos. Mas o despertar em corpo entorpecido infiltra-se numa vaga de
retaguarda. O vasto verde do canavial, a calçada alta com seus degraus
oferecendo todo o brejo do Rio Batateira. O passado por inteiro injetado por uma música
com sentimento de entardecer.
Guarânia
da Saudade de Luiz Vieira na voz de Carlos José. Viver tem destas coisas. Uma
escrita que teima em ser lida cada vez em maior solidão. Apenas eu, somente eu
a compreendo, pois Guarânia alguma jamais interessará aos tempos presentes. Não
que a música ouvida agora seja mais avançada e mais original, ao contrário, com
alguma frequência. Mas viver é guardar pulsando algo incapaz de ocupar o mundo,
vive incrustado na solidão do tempo vivido. Compreendes-me?
Um comentário:
Eu tenho poucos mundos...Mas vivo alguns, nas paralelas.Um deles é ponto de interseção com a saudade.
Como não entender, mesmo sem conseguir explicar?
Abraços, nobre escritor!
Postar um comentário