A instituição do casamento antes como agora é bastante sofrível. Não as mulheres e os homens, mas este arranjo social e econômico. Este Caso Você Case do Vital Farias é o centro desta fraqueza. Existe uma versão da música com a Marília Barbosa. Lembram da Marília que sumiu, ninguém sabe ninguém viu?
Vital Farias
Sem querer me repetir, mas não fazendo uma batalha contra:
tem dias que a gente tem saudade da gente mesmo. De como era, como sentia, como
dizia, como queria o futuro. Quando ouvia Vital Farias. Este Paraibano de uma
geração que era como eu queria o futuro. Sem as malas da velha viagem, sem as
estradas do mesmo destino. Vital Farias: seus sons, as sílabas debulhando a
velha e repetitiva espiga do pensamento conservador da elite nordestina.
Aqueles sons que não se repetirão jamais. Não espere mais
filmes de cowboys como aqueles feitos até o final dos anos 50. Depois daí a
memória dos roteiristas, diretores e editores já estavam muito distantes da
vida rural para poder traduzir algo que lembrasse o que era esta vida. Os
dramas são ambientados no mudo do pistoleiro, mas a narrativa e os personagens
são falsos, assim como este forró eletrônico tão longe da força de Luiz
Gonzaga, Zé Dantas e Humberto Teixeira.
O som de Vital Farias, assim como Zé Ramalho, Belchior,
Geraldo Azevedo, Alceu Valença, entre tantos da safra nordestina dos anos 70
não se repetirão mais. As novas gerações estão muito depois do que estes
compositores viveram na sua infância. Como Vital Farias, filho de uma família
de 14 irmãos, nascido numa fazenda em Taperoá, a mesma do grande Ariano
Suassuna.
E Vital Farias com seus experimentos de sonoridade na
poesia, não se deitou em leito meramente poético. A vida era tudo. A vida
nordestina, infame, infante, insana. A vida de morte e pobreza. A pobreza da
terra, da era, da mera clara em neve da cozinha patriarcal. Onde a voz
tonitruante ecoava até o cascão da cabeça descabelada de tanta fome. Sem
vitamina, proteína e uma mina onde pudesse matar a sede. A sede da miséria
parecia ser ali, mas ficava acolá. Saía pelos portos e não retornava mais.
Vital Farias não gravou mais. Adiantava? Nada adiantava
apenas as cifras da gravadora a inventar o momento. Afinal o momento não era o
dele. Até que um dia ele disputou, por um pequeno partido de esquerda, as eleições
para senador na sua Paraíba: contra Ney Suassuna e Cícero Lucena. Ney, casado
com uma herdeira de uma cadeia de colégios de ricos aqui no Rio de Janeiro foi
eleito. Vital surpreendeu em votação, mas o esgoto carreou um mandato
despejando vontades privadas. O mandato era da Paraíba, mas o personagem morava
no Rio de Janeiro e vivia em Brasília de trocas de favores, um emprego aqui,
outro ali, uma cota para cá, outra nota para lá, sem fá, sem sol, apenas dó.
Esta canção é belíssima. Um som que não se compõe mais. Esta Veja (Margarida) tem excelente versões. Vital Farias fez coisas magistrais entre as quais aconselho ouvir Saga da Amazônia.
2 comentários:
José do Vale
Parabéns pelo execelente texto!
Com este seu texto você põe para pensar, recordar e acordar as pessoas que tiveram um sonho e relata um mundo vivido pela nossa geração.
Vital Farias tem um legado de grandes composições, embora com uma discografia pequena.
Abraços
Aloísio
Ainda hj escuto Vital Farias, Elomar e Xangai...Relembro tempos, quando morei na Bahia.
Gratíssima lembrança, Zé do Vale!
Dá vontade de pegar o embalo e postar umas tantas!
Mas o recado do texto foi oportuno...
Nem quero mais que o tempo volte, quero um presente da paz e saúde plena .
Plena é utopia... Mas a música nos convida a uma plena harmonia de vida e sentidos.
Abraços pra vc e Aloísio.
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