Falo de 13 anos passados. Angola acabara de selar a paz
entre a UNITAS e o MPLA e se formava um governo de coalizão. A missão do
governo brasileiro estava no país. Chegamos
a ver prédios ruídos por tiros de armas pesadas e especialmente um que, ainda
em pé, estava com as paredes varadas assim como um coador de folha-de-flandres.
Na embaixada brasileira após uma reunião de trabalho com um
embaixador entrei numa roda de conversa com um dos funcionários locais. Um
angolano alto e forte de seus quarenta e poucos anos de idade. Duas histórias
dele prenderam toda a minha atenção. Ele estivera na frente de batalha junto
com o MPLA. Estava no campo quando o regime do Apartheid da África do Sul,
estimulado pelos EUA, invadira Angola com tanques modernos e um poderoso
armamento.
Era um massacre no desaparelhado exército do MPLA. Os
soldados Sul-Africanos já haviam superado, com facilidade, as primeiras linhas
de fogo angolanas. A situação era de destruição iminente das forças angolanas
quando, de repente, sem que a maioria dos combatentes angolanos soubessem,
irrompeu na guerra as forças cubanas. Ali mesmo as forças Sul-Africanas foram
barradas e rapidamente foram expulsas do território angolano.
Uma vez numa conversa com Neiva Moreira, ex-presidente do
PDT, jornalista, exilado, uma grande figura que acaba de falecer aos 94 anos de
idade ele me contou algo sobre isso. Neiva Moreira não se fixou num só lugar em
seu exílio. Andou pelo terceiro mundo todo e por isso mesmo chegou a fundar a
Revista do Terceiro Mundo em cuja redação um dia encontrei e passamos os três a
conversar: era o João do Vale. Maranhense como Neiva. Pois bem, o Neiva me
disse que estava em Angola quando um médico brasileiro exilado que estava
ajudando o MPLA chegou e disse: Neiva algo estranho está acontecendo. Hoje
atendi alguns combatentes que falam espanhol.
A outra história do angolano já foi quando trabalhava na
embaixada em Angola e o Brasil conquistou a quarta Copa do Mundo nos EUA.
Aquilo representava um sentimento tão forte de terceiro mundismo, uma alegria
tão intensa dos pobres, que uma multidão de mais de quinhentas mil pessoas subiu
a colina onde ficava a embaixada brasileira para comemorar. O coitado do
embaixador foi levado nos braços pela multidão.
Angola: aqui o Bonga fala do fim da guerra. A paz é uma coisa
que nos parece tão absoluto apesar de sua dependência relativa ao conflito. E
Angola é uma nação tão intensa que não sabemos como classificar com estas
escalas civilizatórias.
Um comentário:
José do Vale
Parabéns!
Narrativa de grande humanismo, culminando com este vídeo Paz em Angola com Bonga, grande expoente da música do seu país.
Abraços
Aloísio
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