por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 16 de maio de 2012

Liberdade para Angola - José do Vale Pinheiro Feitosa


Falo de 13 anos passados. Angola acabara de selar a paz entre a UNITAS e o MPLA e se formava um governo de coalizão. A missão do governo brasileiro estava no país.  Chegamos a ver prédios ruídos por tiros de armas pesadas e especialmente um que, ainda em pé, estava com as paredes varadas assim como um coador de folha-de-flandres.

Na embaixada brasileira após uma reunião de trabalho com um embaixador entrei numa roda de conversa com um dos funcionários locais. Um angolano alto e forte de seus quarenta e poucos anos de idade. Duas histórias dele prenderam toda a minha atenção. Ele estivera na frente de batalha junto com o MPLA. Estava no campo quando o regime do Apartheid da África do Sul, estimulado pelos EUA, invadira Angola com tanques modernos e um poderoso armamento.

Era um massacre no desaparelhado exército do MPLA. Os soldados Sul-Africanos já haviam superado, com facilidade, as primeiras linhas de fogo angolanas. A situação era de destruição iminente das forças angolanas quando, de repente, sem que a maioria dos combatentes angolanos soubessem, irrompeu na guerra as forças cubanas. Ali mesmo as forças Sul-Africanas foram barradas e rapidamente foram expulsas do território angolano.

Uma vez numa conversa com Neiva Moreira, ex-presidente do PDT, jornalista, exilado, uma grande figura que acaba de falecer aos 94 anos de idade ele me contou algo sobre isso. Neiva Moreira não se fixou num só lugar em seu exílio. Andou pelo terceiro mundo todo e por isso mesmo chegou a fundar a Revista do Terceiro Mundo em cuja redação um dia encontrei e passamos os três a conversar: era o João do Vale. Maranhense como Neiva. Pois bem, o Neiva me disse que estava em Angola quando um médico brasileiro exilado que estava ajudando o MPLA chegou e disse: Neiva algo estranho está acontecendo. Hoje atendi alguns combatentes que falam espanhol.

A outra história do angolano já foi quando trabalhava na embaixada em Angola e o Brasil conquistou a quarta Copa do Mundo nos EUA. Aquilo representava um sentimento tão forte de terceiro mundismo, uma alegria tão intensa dos pobres, que uma multidão de mais de quinhentas mil pessoas subiu a colina onde ficava a embaixada brasileira para comemorar. O coitado do embaixador foi levado nos braços pela multidão.

Angola: aqui o Bonga fala do fim da guerra. A paz é uma coisa que nos parece tão absoluto apesar de sua dependência relativa ao conflito. E Angola é uma nação tão intensa que não sabemos como classificar com estas escalas civilizatórias.



Um comentário:

Aloísio disse...

José do Vale

Parabéns!
Narrativa de grande humanismo, culminando com este vídeo Paz em Angola com Bonga, grande expoente da música do seu país.

Abraços

Aloísio