FAZENDO AS PAZES COM UMA TANGERINA – por Stela Siebra
Sabe aquela história de procurar uma coisa e achar outra? Na
bagunça suportável de uma estante, encontrei hoje um livro do monge budista
Thich Nhât Hanh , que tenho desde 1989. Eu procurava um dos meus livros de Astrologia
e eis que “O Milagre da mente alerta”
se apresenta para mim, como me dizendo: ‘nesse momento você precisa reler
minhas lições’. Bom, como eu sempre estou precisando aquietar minha mente...
fui reler o livro, cuja base é o ato de respirar consciente, é o foco na ação
que se está fazendo, como caminho para a unidade, para a percepção da realidade
como um todo e não compartimentos estanques. Parece simples, mas o pensamento
gosta de voar, é preciso disciplina para se chegar à concentração. Pelo menos
para mim é assim. E lá vem aquela música que diz “o pensamento parece uma coisa
à toa/ mas como é que a gente voa/ quando começa a pensar”.
Hum... mas onde é que entra a tangerina nessa história? No
livro, Thich Nhât Hanh conta o fato de que um amigo seu estava chupando uma
tangerina com toda sofreguidão, colocando um gomo atrás do outro na boca, sem
mastigar, enquanto falava empolgado de seus planos para o futuro. O monge,
então, chama sua atenção, pois se não saboreava um gomo de cada vez, não
conseguiria tampouco saborear a tangerina inteira. Lembra-lhe que ele não está
presente na ação, e que junto com a tangerina está engolindo seus planos.
Quando li o livro pela primeira vez lembrei-me de um fato
semelhante que acontecera comigo: estávamos eu e uma prima saboreando umas tangerinas,
quer dizer...minha prima saboreava, mas eu devorava as tangerinas, sem me dar
conta que estava perdendo o melhor daquele momento. De repente, minha prima
percebeu minha avidez e falou: “Oxe, que agonia é essa, menina? Tu nem
respira!”. E começou a rir; também ri, porque nesse tempo eu tinha fama de
estabanada, alvoroçada. Bom... ainda hoje essa fama me acompanha um pouquinho.
A partir daí sempre que tenho uma tangerina em mãos, recordo-me da história e
escolho saboreá-la com vagar, sorvendo seu sabor com prazer, lembrando-me do
ensinamento recebido.
“Se você não está presente, você olha e não vê, escuta mas
não ouve, come mas não saboreia”.
Um comentário:
Uma saborosa tangerina de um pensamento que voa, pois voar é contemplar do alto. Com as asas se viaja e quem viaja saboreia a tangerina a cada gomo. Stela provando sua tangerina relativiza a velocidade, a agilidade com que voa na memória revela uma lição do tempo de cada um. O de Stela não se iguala à do mestre e nem a da prima e por isso ela pode falar no sabor da tangerina.
Postar um comentário