por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 13 de abril de 2012

Contando estrelas- cantando canções- por Socorro Moreira



Ela espreitava o despontar das estrelas. Contava uma por uma, até ficar perdida, encantada dentro de um céu luminoso, piscante.
A cadeira de balanço na calçada rangia notas musicais. Tinha um caderninho mental que lembrava letras de canções. Uma fileira delas, aprendidas no rádio, no canto dos mais velhos, nos discos de vinil, nas amplificadoras da cidade. Soltava a voz bem baixinha, reconhecendo as reticências, nos versos deslembrados.
Hora do recolhimento. Radinho de pilhas ligado, agindo como ansiolítico.
Perguntava, na sintonia. Falava sozinha, em desatino:
Gosta de mim aquele moço?
Está com saudades?
Ama outra pessoa?
A resposta estava condensada na música. Um processo de enclausuramento sentimental.

“Volta meu amor
Volta, por favor,
“Volta que o lugar ainda é teu...”

Era frequente a renovação dos namoros. Existiam os casais certinhos que desde o primeiro olhar se predestinavam.
Outros sucumbiam à tentação de experimentar, até achar. Era um volta e termina, quase indecente. Adrenalina pura, voltar o que parecia findo!
Os afetos de uma mesma geração fazem parte da memória coletiva.
Maria que namorou João, Carlos, e casou com Chico. Um jogo de probabilidades romântico. Afora tudo isso existiam os adivinhos.
Primeira letra do nome de um amor definitivo estaria gravada na faca, enfiada no tronco da bananeira, nas noites de S.Antônio ou S.João.
Marta tinha diário, retratos 3 x 4 oferecidos, cartas de amor perfumadas; papel de chocolate,
Caixinhas de chiclete marcando beijos de hortelã ou chocolate, escorrendo em fios, nos cantos dos lábios. O olhar era o ponto “G” do namoro. Ele dizia e fazia, em silêncio.
Era buliçoso, fazia ferver o sangue, pintava a paixão de roxo.
Cheiros e sons...
Ausências que são eternas presenças.
Agora tudo são lua e estrelas... Prata num céu azul sonhado!


2 comentários:

Vera Barbosa disse...

Sua narrativa, seus versos traduzem as suas delicadezas. Cada letra, toda a intenção impressas feito tatuagem. Sorte de quem tem suas digitais, suas impressões definitivas... Perpetuadas.

socorro moreira disse...

Cada pessoa amiga,especial fica tatuada na minha alma.Abraços