por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sábado, 21 de janeiro de 2012

Sombras e Sonhos - Socorro Moreira





Tenho pensado mal dos meus sonhos, mas não posso deles me queixar... Fotografam e revelam os meus desejos conscientes e inconscientes. A culpa é minha se eles são modestos ou mesquinhos.
Concentram-se em coisas realizáveis a qualquer tempo.
Os sonhos alcançam as nossas graças. São respostas às nossas dúvidas.
Sonhei encontrando todo mundo.
Eram duas salas. Na primeira eu via o povo, como era no passado. Percebo-me tímida, mas de olhar caçador e danado. Pronto! Cruzei meu olhar com um moço de sorriso zombeteiro. Por uma fração de segundos a gente se viu. Só que desta vez, eu congelei o fato.
Na segunda sala a gente apareceu com a roupa do futuro. Cabelos cansados, mas restaurados. Percebi novos rostos, adicionados pela vida.
Se os encontros se desencontram, não importa... Nos sonhos eles são perfeitos!
Hoje é sábado. Minha agenda está desobstruída dos trâmites gerais. Posso tudo, inclusive ficar de pernas para cima, e deixar a casa sem almoço.
Pra que é que serve ovos e sardinha? Também tenho os meus dias de farofa, banana, e doce de pacote.
Acordei sem lembrar o que sonhei, mas lembrando um passado remoto, e uma das minhas inúmeras mortes.
A vida reflete o sonho. Tenho parcos sonhos. Economizo distâncias, dinheiro, paixão, e até saúde. Sou tão injusta...! Só não economizo poesia. Por falta de sonhos ela chega de chinelos franciscanos, perambulando no frio fulgor das auroras.
Tenho tudo e deixo de querer o essencial. Estou presa a quatro paredes, e de janelas e portas abertas para o mundo virtual. Lá também não sonho, nem invento realidades. Não brinco de amar.
Não sou exatamente triste, nem exatamente romântica. Sou quase esquisita... Alegro-me com o brilho no olhar dos meus amigos. Absorvo e rejeito a tristeza. Choro-a em prantos, sem entender o meu luto contínuo... Coisas perdidas, ganhos em caixas vazias. Quando a morte chegar, de nada me separará... A não ser das manhãs e madrugadas, e dos irrespiráveis ares que insisto em tragar.
Eu resumi a vida, e ela teimosa se estica. Comprimi todas as músicas, no repertório de Nana Caymmi (nunca vou escrever sem dúvidas, o sobrenome Caymmi...). Não gosto do risível , nem do aterrador. Vivo as madrugadas que nascem e morrem em mim, num cotidiano repetitivo, desequilibrado com algumas surpresas.
Um desconto ou troco poético , que me roubam do tédio.
O contato com as palavras é recreativo. Tomo café com vogais, e faço sopas com todas as letras.
Faço turismo nos contos de alguns, catando arrepios e extraindo gotas de emoção para molhar a secura do coração. Não sei os motivos da arte. Ela foge de mim quando a procuro, e esconde-se nos meus porões.

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