ADÉLIA PRADO
Clareira
Seria tão bom, como já foi,
as comadres se visitarem nos domingos.
Os compadres fiquem na sala, cordiosos,
pitando e rapando a goela. Os meninos,
farejando e mijando com os cachorros.
Houve esta vida ou inventei?
Eu gosto de metafísica, só pra depois
pegar meu bastidor e bordar ponto de cruz,
falar as falas certas: a de Lurdes casou,
a das Dores se forma, a vaca fez, aconteceu,
as santas missões vêm aí, vigiai e orai
que a vida é breve.
Agora que o destino do mundo pende do meu palpite,
quero um casal de compadres, molécula de sanidade,
pra eu sobreviver.
(Gosto de Adélia como gosto das minhas comadres e dos meus compadres, que me visitam e trocamos notícias, ouvimos música, vemos um filme... e depois partimos, cada um para sua vida inventada, vamos bordar nossas toalhas e esperar que anoiteça só pra olhar para as estrelas)
Nenhum comentário:
Postar um comentário