por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 10 de outubro de 2011

CATULO DA PAIXÃO CEARENSE- por Norma Hauer


Seu nome é Cearense, mas ele nasceu em 8 de outubro de 1863 em São Luiz do Maranhão, onde viveu até aos 10 anos, quando sua família passou a residir no interior do Ceará, terra de seu pai (Amâncio José da Paixão Cearense).

Durante muito tempo, com ele já residindo aqui no Rio de Janeiro, pensava-se que fosse cearense. Parece-me que quem "destrinchou" a verdade sobre sua naturalidade foi Almirante (Henrique Foreis) um dos homens mais inteligentes do rádio brasileiro. Inteligente e pesquisador que ia "fundo". Não aceitava nada sem provas.

Aos 19 anos, Catulo, contra a vontade do pai, abandonou os estudos e passou a dedicar-se a tocar violão. O violão, naquela época, assim como outros instrumentos era considerado vulgar e "gente bem" não se aproximava de um.

Mas Catulo era teimoso e sendo um poeta e músico nato, dedicou-se ao instrumento e começou a compor serenatas, o que era, também, uma "ousadia". Por aí vê-se a dificuldade que deveria ser dedicar-se a coisas "reles" que as pessoas de família não apoiavam.

Catulo, enfrentando tudo, em 1908 apresentou-se com seu instrumento "infame" no Conservatório de Música e passou a ser aceito na sociedade . Afinal era um gênio !!!
Apesar disso, só em 1914, quando a pedido de Nair de Tefé, mulher do então
Presidente da República (Marechal Hermes) apresentou-se no Palácio do Catete, é
que foi mais bem recebido a ponto de ser convidado para saraus, "modismo" da
época. Nair de Tefé, mesmo sendo quem era, também encontrou preconceito para se impor como caricaturista, com o nome de Rian (Nair invertido).
Reconhecido como gênio e freqüentando saraus em um deles uma mocinha metida a importante zombou de sua feiura. Para que?
Na hora ele compôs "Talento e Formosura".

A música mais famosa de Catulo, que é cantada até por crianças atualmente ("Luar do Sertão") não é das mais bonitas nem das mais poéticas, embora seja uma ode ao sertão.

Por Um Beijo ";"Clélia";Cabocla Bonita"; "Rasga o Coração"... são verdadeiras obras de arte, com músicas e poemas deslumbrantes.

Colocarei aqui a letra de "Talento E Formosura"porque a considero uma obra-prima que é uma lição para quem pensa que a beleza é eterna.

TALENTO E FORMOSURA

Tu podes bem guardar os dons da formosura,
Que o tempo um dia há de implacável trucidar.
Tu podes bem viver ufana da ventura,
Que a natureza cegamente quis te dar.
Prossegue, embora,
Em flóreas sendas sempre avante,
De glórias cheias no seu solo triunfante,
Que antes que a morte vibre em ti funéreo golpe seu,
A natureza irá roubando o que te deu.

E quanto a mim, irei cantando meu ideal de amor,
Que é sempre novo, no vigor da primavera.
Na lira austera em que o Senhor me fez tão destro,
Será meu estro só do que for imortal.

Terei mais glória em conquistar com sentimento,
Pensantes almas de varões de alto saber.
E com amor e com pujança de talento,
Fazer um bardo ternas lágrimas verter.
Isso é mais nobre, é mais sublime e edificante
Do que vencer um coração ignorante.
Porque a beleza é só matéria e nada mais traduz
Mas o talento é só espírito e só luz.

Descantarei na minha lira as obras-primas do Criador,
O mago olor da flor, desabrochando à luz do luar.
O incenso dágua que nos olhos faz a mágoa rutilar
Nuns olhos onde o amor tem seu altar.

E o verde mar que se debruça na alva areia a espumejar
E a noite que soluça e faz a lua soluçar.
E a Estrela Dalva e a Estrela Vésper langüescente
Basta somente para os bardos inspirar.

Mas quando a morte conduzir-te à sepultura,
O teu supremo orgulho, em pó, reduzirá.
E após a morte profanar-te a formosura
Dos teus encantos mais ninguém se lembrará.
Mas quando Deus fechar meus olhos sonhadores
Serei lembrado pelo bardos trovadores,
Que os versos meus hão de na lira em magos tons gemer
E eu morto, embora, nas canções hei de viver.

Ufa!!! Penso que para entender bem esses versos, será necessário o uso de um
dicionário.

Catulo faleceu em 10 de maio de 1946, aqui no Rio de Janeiro e hoje, 65 anos após sua morte, ele morto, embora, nas canções está vivendo.

Assim são os gênios !

Norma

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