Padre Cícero Romão Batista trouxe dois violinos de Roma. Um deles para um sobrinho e o outro foi presenteado ao tabelião Antônio Machado, seu afilhado, por quem o sacerdote nutria grande afeto. Machadinho, como também era conhecido, foi tabelião no Crato por muitos anos. O instrumento, marca Maggini, modelo 1715, provavelmente foi adquirido de 2ª mão, uma vez que havia deixado de ser fabricado décadas antes.
No fundo do instrumento, embaixo do tampo, foi colado um papel e nele consta “Adquirido pelo pe. Cícero em Roma – Itália 1898, of a Antônio Machado em 26/03/1929 – Ceará – Juazeiro”.
Antônio Machado cedeu o violino ao músico Paulino Galvão que passava uma temporada em Fortaleza. Indo morar no Rio de Janeiro, Paulino Galvão foi colega de orquestra do violinista cratense Virgílio Arraes, spalla da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal do RJ. Tocaram em outras orquestras e trabalharam juntos em muitas ocasiões, inclusive gravações de cantores da MPB de primeira linha. O dono do violino requereu aposentadoria e mudou-se para uma cidade do interior do Rio de Janeiro, deixando de tocar profissionalmente. Uma curiosidade: apesar de raro e do valor incalculável, a peça musical jamais foi comercializada após chegar ao Brasil, foi sucessivamente passada de mãos em mãos.
Passado alguns anos, Virgílio resolveu visitar o antigo colega na cidade onde estava morando e manifestou desejo de adquirir o violino que pertencera ao fundador de Juazeiro do Norte. O músico aposentado respondeu que o instrumento era valioso demais para ser vendido e por esta razão não vendia. Mas na hora da despedida pediu para o visitante aguardar um pouco, foi ao interior da casa e retornou com o instrumento raro, entregou ao amigo dizendo que era presente. Apenas pediu que cuidasse bem dele.
Assim, o violino único, que pertenceu ao Padre Cícero, foi parar nas mãos de um cratense, e está bem guardado e bem conservado.
VIRGÍLIO ARRAES FILHO
O proprietário do violino histórico, Virgílio Arraes Filho, merece capítulo à parte. Nascido no Crato, filho de Virgílio Arraes e de Marcionilia de Alencar Arraes, surpreendeu sua mãe quando, aos oito anos, afinou e tocou o bandolim a ela pertencente, sem nunca ter tido uma única aula de música. Diante do prodígio, seus pais procuraram o maestro da banda municipal para que lhe transmitisse noções da 1ª arte. Ainda criança, ouviu uma música no rádio e sentiu-se atraído pelo som do violino, que jamais havia visto. Comunicou aos pais que não queria mais tocar bandolim e sim violino. “Seu” Virgílio (proprietário da primeira sorveteria do Crato – Sorveteria Brasil - e ex-prefeito de Campos Sales, onde nasceu) mandou buscar o instrumento no Rio de Janeiro. Resolvido um problema, surgiu outro: não havia professor no Cariri. A família mudou-se para Fortaleza. Os mestres da capital cearense perceberam o enorme talento do aluno e aconselharam o aluno brilhante ir estudar na então capital brasileira, o Rio de Janeiro.
No Rio de Janeiro a carreira foi meteórica: primeiro lugar no vestibular na escola de música da UFRJ (1953), primeiro colocado no concurso público para a orquestra do Teatro Municipal, onde foi o primeiro violonista (“Spalla”) durante muitos anos. Músico da Orquestra Sinfônica Brasileira, da orquestra da TV Globo e muitos outros feitos. Único músico a tocar no cinqüentenário (1959) e centenário do Teatro Municipal do RJ. Em seu currículo constam performances nos mais importantes palcos do mundo, inclusive com a orquestra do Royal Ballet de Londres, onde foi aplaudido pela realeza Inglesa e recebeu cumprimentos pessoais da princesa Anne.
Participou de gravações com consagrados nomes da MPB, como Roberto Carlos, Chico Buarque de Holanda, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Simone, Fagner, Djavan, Dalva de Oliveira, Orlando Silva e muitos outros.
9 comentários:
Amei a matéria.
Grande,grande!!!
Abraços
Na foto, tirada em 31.07.2011, aparecem Virgílio Arraes e o Padre Ágio. Não pensem que é o Pe. Cícero.
Socorro, obrigado pelo comentário. Abraços
Essa história contada por Joaquim é muito interessante.
Esse violino tem muito valor mesmo: saiu de Roma pelas mãos do pe.Cícero e esteve sempre em boas mãos, de grandes músicos.
Joaquim, como sempre, tem uma boa história pra contar.
Informações preciosas! parabéns!
Informações preciosas! Uma prova de que o "dom" precisa ser aperfeiçoado!
Interessantíssimo, Joaquim! Obrigado.
Virgílio era afilhado de Vovó. Quando ela morreu - e ela também era minha
madrinha - eu telefonei para Francisco que se prontificou a rezar a missa de
sétimo dia na Igreja de Santa Luzia (no Centro) , onde ele oficiava. Logo
depois me telefonou para dizer que Virgílio "que era afilhado de Benigna"
fazia questão de tocar durante a missa. E assim foi feito.
Um grande abraço,
José Almino Alencar neto, filho mais velho Dr. Miguel Arraes.
Joaquim,obrigado por me proporcionar esta belissima historia de amor à arte,a história do nosso povo e fatos marcantes do nosso Cariri.
Tudo parece mais uma intervenção celestial do Pe.Cicero...............
Essa maravilhosa história precise ser atualizada. Virgílio Arraes, devolveu o violino a família Machado. Agora pertence a sobrinha neta de Antônio Machado. Patricia Machado Mello que é Violinista, escritora, compositora e pintora. Hoje considerada uma das maiores especialista em preparar violinistas para bolsas de estudo no exterior e na formação de grandes violinistas brasileiros. Assim, o violino voltou ao Clã dos Machados.
Essa maravilhosa história precise ser atualizada. Virgílio Arraes, devolveu o violino a família Machado. Agora pertence a sobrinha neta de Antônio Machado. Patricia Machado Mello que é Violinista, escritora, compositora e pintora. Hoje considerada uma das maiores especialista em preparar violinistas para bolsas de estudo no exterior e na formação de grandes violinistas brasileiros. Assim, o violino voltou ao Clã dos Machados.
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