por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 5 de julho de 2011

A ALMA E O CORPO- por José do Vale Feitosa



Um ânimo (anima – sopro, ar, alento..) parece dar vida ao corpo. Pode morar aí uma grande ilusão, ao contrário do que pensava Sócrates, o ânimo não seria externo, mas apenas um manifesto temporal do próprio corpo. De qualquer modo, seguindo este caminho adiante, o ânimo depende de profunda e contínua relação do corpo com os elementos do planeta: oxigênio, água, carbono, sais minerais, oligoelementos e outras substâncias, inclusive da força de gravidade. É inegável que sem esta relação jamais existiu uma situação em que o ânimo permanecesse no corpo, advindo a morte. Com isso suspeita-se, cada vez mais, que ele seja uma manifestação intra-corporis.

Por isso não é de se estranhar que tenhamos profunda admiração (venerar, desejar etc.) com as forças, energias e grandes massas do planeta terra. Religiões existiram sobre elas. Depois a vida se civiliza num organismo coletivo e as religiões passaram a admirar as normas do coletivo, as fabulações da vida em sociedade, portanto as parábolas que orientam pessoas e grupos sobre o arco mais amplo daquelas regras históricas. As normas que foram além da materialidade da vida e transpuseram o ânimo para um todo histórico e coletivo, a unicidade que tudo explica. A vida coletiva e sua cultura.

O Dr. José Flávio tem aberto um diálogo com a religião católica. Incansável na busca de algo para dizer sobre as evidências do tempo. A questão da excomunhão dos católicos em Recife, a questão da Pedofilia entre padres, mas apontando isso tudo para o senso da falibilidade humana versus o atributo admitido ao Papa. Em recente comentário a uma postagem dele mesmo, José Flávio chegou ao ponto exato do seu diálogo: "Precisamos de intermediários? Por que nossa relação não é diretamente com o criador, já que ele está em todo lugar?"

O grande fato histórico é esse mesmo. O ânimo (ou melhor, a admiração) se manifesta com a unicidade do todo da civilização e da cultura diretamente. Individualmente. Sem intermediários. Sem hierarquias entre si e a unicidade (aquela mesma que é responsável por este modo de ver e viver o mundo). O mundo criado, explicado por uma singularidade (emprestada do falar da física da partícula) que condensa todas as normas e regras humanas em face do universo. Esse é o núcleo, sem dúvida alguma que permeia a história pelo menos desde o Renascimento. E não é sem razão que o renascimento seja o renascer greco-romano, as únicas civilizações que de fato consideraram o ânimo do próprio indivíduo.

Eis a razão pelas quais este núcleo de pensamento não pode aceitar uma forma de governo monárquica. Menos ainda papal. Ambas as formas de intermediação, de hierarquização entre as pessoas e as normas da civilização. Aliás, embora o papado tenha sobrevivido ao ocaso das monarquias européias e aos anseios da reforma protestante e anglicana, o certo é que para tal núcleo ele soa anacrônico em excesso. A verdadeira democracia, aquela em que os indivíduos são efetivamente livres para pensar e agir não pode acontecer sob a égide de quaisquer guarda-chuvas.
por José do Vale Pinheiro Feitosa

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