As línguas modernas, especialmente as ocidentais, são filhas da modernidade e da era pós-medieval. Um condão as liga de algum modo por que a ciência e a filosofia, além do cristianismo, adotaram o latim e o grego como guia para juntar os tempos. Por isso o Inglês não se compreende sem os EUA, o Castelhano sem a América Latina e o Português sem Angola, Moçambique e Brasil.
Por isso é que o Brasil por sua natureza confluente dos povos de quase todos os continentes representa algo diferente. Algo sincrético, não apenas os guetos étnico de países por aí. Aqui as coisas se misturaram. Estamos na origem de muito mais coisas que nós mesmos nem sabemos.
O Fado tem muito da modinha e do Lundu, que fez Tinhorão abrir uma bela polêmica com intelectuais portugueses. É claro que o corpo do Fado é Português, mas não deixa de ser brasileira a sua alma. O mesmo se diz de outro grande tema, esse mais internacional e com mais forte impressão sobre a cultura do século XIX e XX, que é o tango Argentino. Os brasileiros têm muito com o tango.
Mas o Fado vai além da frase terminal: este canto langoroso com que certo modismo gosta de passar a régua. O Fado sempre esteve muito presente nos momentos de lazer musical. Nos anos 60, Francisco José, se tornou quase que um cantor de sucesso brasileiro. Mas o fado é belo demais. Tem muito daquela nesguinha de terra pendurada nas bordas da Europa e que viu tantas almas sumirem nos mares. Tantos navegares de separação, de adeus e do final em vida do amor e da amizade.
O fado é a canção de um povo fértil cujas crias, como os italianos, não couberam no seu chão. E quantos pais e avós nunca souberam o destino de seus rebentos a cruzar os mares para fazer histórias jamais contadas na origem. Histórias que se tornaram verdade de outro lugar, em outros povos.
Fiquem com os fados. Apresento quatro significativos e que reproduzem as coisas que falei. Prestem atenção no Carlos Ramos e na letra deste triângulo amoroso. Ouçam Amália Rodrigues a dizer o que é o Fado, Tristão da Silva a olhar os barcos do seu naufragar e finalmente Chico José com seu conhecido Olhos Castanhos.
Um comentário:
Caro JVP Feitosa,
primo meu, a pequena distância,
O sentimento que traduz uma guitarra portuguesa e o bandolim, num choro são muito semelhantes. Considerando os timbres e a forma de tocar os instrumentos. Lembro que são instrumentos originados do alaúde, árabe.
Considerando que "herdamos no sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo, além da sífilis...", fica mais fácil entender as semelhanças entre o fado e o choro. Neste caso o reconhecimento de paternidade cultural é um tanto prejudicado e deixaria isso para um tratado de etnomusicologia, o que seria um tanto enfadonho. E veja só, "enfadonho" não é nada pejorativo pois gosto muito de fado e mais ainda de choro. O fato é que esta é mais uma daquelas deliciosas conversas sem fim que gosto de entabular com os amigos.
Grande abraço, meu caro!!
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