Hoje é um dia de lembrar a paternidade perdida, deixando de lado a dor da perda, mas chamando a saudade vestida de proteção, alegria e ternura.
Moreirinha era um pai especial. Vivia arte, produzia arte, e amava com arte. A sensibilidade dos seus 6 filhos foi formada , no pé do rádio, radiola, cartolinas, telas, pincéis, e no bico da pistola. Pistola mágica , usada por mãos destras, e olhar estético.
Nem dá pra enumerar o tanto do carinho que recebemos daquele homem de mãos sujas de tinta, que com elas ganhava o nosso sustento.
Tínhamos reais afinidades. O mesmo pé, o mesmo passo. Gostávamos da vida noturna, do violão tocado e cantado nas madrugadas.Fizemos juntos, algumas "farras". E até quase nos seus últimos anos, ele cantava lindamente todas as músicas que eu gostava. “Canta aquela, papai" ... Frase que eu aprendi a repetir , desde a mais tenra idade !
Era cheio de gavetas fechadas, onde guardava seu material de trabalho: pincéis, cartolinas, Nanquim ,lápis , réguas, estiletes, canivetes, etc.Tinha ciúmes dos seus livros, coleções de revistas e discos. Amava o cinema , e não perdia uma única estréia. Fazia os cartazes, faixas com letreiros, e ainda desenhava os grandes astros, no papel de pão, nas toalhas de mesa da casa.
Ter um pai artista muda uma história de vida.
Sou música porque ele me fez assim !
Sou borboleta, estrela, vento e palmeira, porque assim me desenhou.
Sou a resultante de uma vida cantante, chorando e sorrindo , num clima de boemia e religiosidade.
Agora, anda por lá... Provavelmente fazendo artes !
Se o passado voltasse, queria meu pai, outra vez ao meu lado , cantando no banheiro, assobiando Pixinguinha, comendo uma coxa de peru, no almoço... e, pra variar, tomando uma cervejinha !
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