Eu sempre calado
entre estranhos dobres.
Eis-me limitado
por estanho e cobre.
Eis-me emparedado
no meu quarto pobre.
Ainda mais me calo,
por mais que me dobres.
Sempre o mesmo avaro,
por mais que me cobres.
Parco de palavras
e outros marcos úteis.
Nessas minhas lavras,
sempre mais inúteis.
Memórias escravas,
minhas cobras fúteis.
Meus anjos de lavas,
trevas, barros súteis.
Eis-me em lande escassa:
longe, as formas dúcteis.
Esse o meu destino.
Moldar a estrutura
de encruados mitos.
Na pedra mais dura
forjar um estilo
de vaga ventura.
Nesta arte prossigo,
hera de ternura.
Neste brando rito,
palavra mais pura.
Do quarto as paredes
a pele do corpo.
Isolam as sedes
deste vário horto,
lançadas as redes
onde tudo é morto.
Onde eram as lendas
é um olho torto.
Por que se desvendem
as vozes do orco.
E o que era talvez
um menino antigo
finda-se de vez.
Desse mito findo
o muro de pez
e íntimo granito.
Dessa viuvez
no verbo falido.
– Um poema não lês,
não se lê o olvido.
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Tempo de memória. Não mudei muito: penso que este poema já velho
(in O Emparedado, Companhia Editora Americana, Rio, 1975)
ainda me define.
A foto é da Sônia.
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2 comentários:
Grandioso poeta,
tu já és fábula
e todo o veludo
do tempo
...
Poema inesquecível,
amigo
...
Forte abraço.
Chegar e encontrar uma multidão de poetas é atordoante !
Abraços, Domingos e Chagas
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