Existe uma base teórica, uma formulação ideológica e a ação
política para o projeto centrado do interesse empresarial e do plano de negócio
aconteça como uma prática institucional numa sociedade. A base teórica deste projeto
brasileiro é o mesmo liberalismo econômico cuja inovação teórica é a escola
monetarista ou a chamada Escola de Chicago.
A formulação ideológica foi sustentada por “economistas”,
colunistas da grande mídia e repercutida na sociedade por políticos afinados
com as grandes multinacionais, com as bases do empresariado industrial, o
agrobusiness e o sistema bancário. A figura política que se tornou o núcleo
político deste projeto, até agora, tem sido o ex-presidente FHC em face das
práticas de seu governo.
Algumas matrizes das “memes” ideológicas na cultura política
nacional reproduzidas por este projeto. As privatizações como bandeira central,
o famoso choque de gestão, os pregoeiros do fim da era Vargas (ou seja direitos
sociais e trabalhistas), as finanças desreguladas, o superávit primário como
supremacia aos direitos do povo; o horror a políticas industriais e,
especialmente, aos bancos de fomento do tipo BNDES e até em certa medida o
Banco do Nordeste; os ventríloquos do “custo Brasil”; a personalização do
mercado como se fosse um ser humorado ou mal humorado; o impostômetro, a
sonegação fiscal e burla aos orçamentos sociais.
A ação política deste projeto é internacional, passando pelo
sistema financeiro, tendo por núcleo de força as instituições do Estado
Americano (1), por plano estratégico as grandes empresas multinacionais e até
mesmo a rede mundial de computadores através do controle da informação gerada
pela massa enorme de transmissões feitas na rede. Internamente ele se fortalece
com as forças corporativas de instituições do tipo FIESP, FEBRABAN e assim por
diante. As organizações políticas que lideraram este projeto até agora foram o
PSDB, o DEM e os agregados que se constroem no processo de formar o governo.
Este projeto como força política hegemônica tem sofrido
desgastes em razão dos governos Lula e Dilma e mais objetivamente em face da
crise internacional do capitalismo e por consequência o desgaste da sua “meme” cultural
principal que é o Mercado. Nas últimas eleições de 2010 em razão do desgaste do
discurso mais liberal social até então desenvolvido por liderança do próprio
FHC, surgiu uma onda mais radical e agressiva que mimetizou o modelo das
grandes ditaduras latino-americanas qual seja um projeto de controle popular
autoritário com cunho fascista para impor o liberalismo econômico. É o velho
poder regressivo: pau na população descontente e liberdade ampla de negócio.
Espera-se no campo do projeto empresarial que a ala de
pensamento radical de direita, do tipo Olavo de Carvalho, tente impor o seu
discurso regressivo mobilizando temas religiosos, morais, renascendo os velhos
medos da Guerra Fria e expondo a prática histórica mais clássica da direita
brasileira: o “udenismo” moralista agarrado à arca da aliança da corrupção dos
adversários, enquanto fazem acordos por baixo do pano com toda a classe de onde
nascem os corruptores.
Em razão dos fatos recentes sobre o cartel formado no metrô
de São Paulo dos governos do PSDB e além do partido não ter se mostrado com força
eleitoral capaz de vencer os adversários, é possível que este projeto tente
alternativas. A depender do resultado das eleições é muito provável que, em
caso de outra derrota, este projeto tente novas forças políticas e que o PSDB
seja substituídos por alternativas. Por isso a extrema direita se tornou tão
ativa na internet.
(1) O
Presidente da Bolívia acaba de escrever um artigo no Le Monde Diplomatique
falando do seu sequestro enquanto voava de retorno de Moscou para La Paz. Eis
aqui o que ele fala a respeito dos EUA:
Até 2 de
julho (data do nosso sequestro), todos compreendiam que os Estados pudessem
dotar-se de agências de segurança, a fim de proteger seu território e
população. Mas Washington ultrapassou os limites concebíveis. Violando todos os
princípios da boa fé e as convenções internacionais, transformaram parte do
continente europeu em território colonizado. Um insulto aos direitos do homem,
uma das conquistas da Revolução Francesa.
O
espírito colonial que conduziu a submissão de tantos países demonstra, mais uma
vez, que o império não tolera nenhum limite – nem legal, nem moral, nem
territorial. A partir de agora, está claro para o mundo inteiro que, por esta
potência, todas as leis podem ser transgredidas, toda a soberania violada, todo
o direito humano ignorado.
O poder dos Estados
Unidos está claramente nas suas forças armadas, envolvidas em várias guerras de
invasão apoiadas por um complexo militar-industrial fora do comum. As etapas
das suas intervenções são bem conhecidas: após as conquistas militares, a
imposição do livre comércio, de uma concepção singular de democracia, e, enfim,
a submissão das populações à voracidade das multinacionais.
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