Do Crato para o mundo
A vida e seus enredos,
mágicos enredos. A vida: a surpresa, a alegria e a riqueza de cada novo
instante. Por isso cumpre viver. Dia desses, aí no passado do blog,
postei um poema do livro A rua do padre inglês, do
poeta cearense Everardo Norões, radicado há muitos anos no Recife. A
forma como cheguei a esse autor e a esse exemplar se mistura nas brumas
de algum acaso: lembro de ter lido uma resenha desse volume em alguma
das revistas culturais de banca (e por isso mais ainda prezo e reforço a
importância de se frequentar e folhear revistas culturais). Foi na
Iluminura, disso lembro. Imediatamente providenciei a encomenda de um
exemplar com a equipe da livraria.
Até havia esquecido, na rotina das semanas seguintes, que havia solicitado esse livro. Mas o pessoal da Iluminura agiu a caráter e numa das minhas passagens por lá a Isabel me informou: chegou um dos livros que tu tinhas encomendado. Justamente o A rua do padre inglês, do Everardo Norões, pela 7Letras, autor do qual até então não tinha muitas informações biográficas. Bem, o fato é que abrir o simpático exemplar, num formato situado entre o pocket e o convencional 14x21; ler os primeiros versos e simpatizar instantaneamente com essa poesia foi inevitável.
Assim postei um dos textos aqui no Leituras de Mundo. Qual não foi minha surpresa que dias mais tarde o meu e-mail acusou a chegada de um contato do autor, que constatara ter sido mencionado no blog. Mais do que isso, ali pude saber que Norões estava com viagem programada para breve ao Rio Grande do Sul, a passeio.
Salto temporal. Pois ontem, quinta-feira, pude assim, por conta dessa manifestação de agrado e de empatia pela qualidade de sua poesia, conhecer pessoalmente o Everardo (da foto abaixo), acompanhado da esposa Sonia, em Porto Alegre. Ambos me concederam algumas das horas mais agradáveis de conversa de toda a minha vida. Pessoas vividas e com uma rara formação artística, humana e cultural, são dessas companhias que não nos propiciam, em um diálogo, saltar aenas alguns degraus em nossa caminhada de amadurecimento e de ampliação de nossa capacidade de ver o mundo com mais humanidade. Junto deles, em poucas horas de conversa e de troca cultural, acaba-se parando alguns andares acima nesse prédio do saber, tamanho é o fascínio que exercem.
Bendita a hora em que uma revista, de cujo nome sequer lembro, me mencionou o nome de Everardo. No caminho para encontrar-se com ambos, conforme previamente combinado, folheava ao acaso o exemplar da já indispensável antologia Poetas da América de canto castelhano, organizada e traduzida, reunindo um timaço de 120 poetas, pelo querido poeta amazonense Thiago de Mello para a editora Global. Qual não é o meu pasmo quando, na relação dos agradecimentos feitos por Thiago a colaboradores dessa sua empreitada, lá estava mencionado Everardo, pontualmente reconhecido pelo colega amazonense como um grande expoente da poesia brasileira. Eu já não precisava acrescentar mais nada para saber que estava diante de um raro homem de letras.
Nascido no Crato, bem no sul do Ceará, exatamente na divisa com Pernambuco, ainda jovem Everardo transferiu-se para Recife, onde encaminhou seus estudos e cumpriu a sua vida profissional, como economista, poeta, tradutor e crítico literário. Ali, como fiquei sabendo, conversa regularmente com outros nomes referenciais das artes e da literatura do Nordeste, dentre eles dois autores que, sem que os conheça igualmente, têm a minha predileção de leitor: o também poeta cearense Magela Collares, conterrâneo de Estado de Everardo e conterrâneo de cidade do Luciano Maia, ambos nascidos que são em Limoeiro do Norte; e o romancista cearense (este da já famosa Saboeiro) Ronaldo Correia de Brito, autor de Galileia, pelo qual ganhou o polpudo Prêmio São Paulo de Literatura de autor consolidado no mesmo ano em que o gaúcho Altair Martins, por seu A parede no escuro, mereceu o prêmio de autor estreante.
Em relação a Everardo, durante a ditadura ele acabou seguindo para o exílio, quando então viveu na França, na Argélia e em Moçambique. Poeta e tradutor, dedica-se a versar ao português autores latinoamericanos, caso da antologia El rio hablador/O rio que fala: antologia da poesia peruana, disponível pela 7Letras, em parceria com Pedro Americo de Farias. Na reta final de 2011 acabou de ser anunciado como vencedor do Prêmio Literário Cidade de Manaus, pelo livro O fabricante de histórias. Em 2010, lançara o volume Poeiras na réstia, e sua bibliografia compreende ainda, dentre outros, Retábulo de Jerônimo Bosch (2008), Nas entrelinhas do mundo (2002), com artigos, em parceria com Abelardo Baltar; e Poemas (1999). É, ainda, e cumpre mencionar com admiração, organizador da edição de Poesia completa e prosa de Joaquim Cardozo, pela Nova Aguilar (em coedição com a Massangana/Fundaj), poeta que, ao lado de João Cabral de Melo Neto, é, na apreciação de Everardo, um dos maiores da poesia nacional.
Eis, assim, mais uma dessas gratas dádivas da melhor literatura do Nordeste ao conjunto da literatura brasileira. É por nomes da grandeza de arte e cultura de Everardo Norões que o Brasil deve se dizer a cada dia mais rico.
* "Você já escutou Agustin Lara?"
Já leu Everardo Norões?
O Fabricante de Histórias, entre outros do autor, é fascinante!
Até havia esquecido, na rotina das semanas seguintes, que havia solicitado esse livro. Mas o pessoal da Iluminura agiu a caráter e numa das minhas passagens por lá a Isabel me informou: chegou um dos livros que tu tinhas encomendado. Justamente o A rua do padre inglês, do Everardo Norões, pela 7Letras, autor do qual até então não tinha muitas informações biográficas. Bem, o fato é que abrir o simpático exemplar, num formato situado entre o pocket e o convencional 14x21; ler os primeiros versos e simpatizar instantaneamente com essa poesia foi inevitável.
Assim postei um dos textos aqui no Leituras de Mundo. Qual não foi minha surpresa que dias mais tarde o meu e-mail acusou a chegada de um contato do autor, que constatara ter sido mencionado no blog. Mais do que isso, ali pude saber que Norões estava com viagem programada para breve ao Rio Grande do Sul, a passeio.
Salto temporal. Pois ontem, quinta-feira, pude assim, por conta dessa manifestação de agrado e de empatia pela qualidade de sua poesia, conhecer pessoalmente o Everardo (da foto abaixo), acompanhado da esposa Sonia, em Porto Alegre. Ambos me concederam algumas das horas mais agradáveis de conversa de toda a minha vida. Pessoas vividas e com uma rara formação artística, humana e cultural, são dessas companhias que não nos propiciam, em um diálogo, saltar aenas alguns degraus em nossa caminhada de amadurecimento e de ampliação de nossa capacidade de ver o mundo com mais humanidade. Junto deles, em poucas horas de conversa e de troca cultural, acaba-se parando alguns andares acima nesse prédio do saber, tamanho é o fascínio que exercem.
Bendita a hora em que uma revista, de cujo nome sequer lembro, me mencionou o nome de Everardo. No caminho para encontrar-se com ambos, conforme previamente combinado, folheava ao acaso o exemplar da já indispensável antologia Poetas da América de canto castelhano, organizada e traduzida, reunindo um timaço de 120 poetas, pelo querido poeta amazonense Thiago de Mello para a editora Global. Qual não é o meu pasmo quando, na relação dos agradecimentos feitos por Thiago a colaboradores dessa sua empreitada, lá estava mencionado Everardo, pontualmente reconhecido pelo colega amazonense como um grande expoente da poesia brasileira. Eu já não precisava acrescentar mais nada para saber que estava diante de um raro homem de letras.
Nascido no Crato, bem no sul do Ceará, exatamente na divisa com Pernambuco, ainda jovem Everardo transferiu-se para Recife, onde encaminhou seus estudos e cumpriu a sua vida profissional, como economista, poeta, tradutor e crítico literário. Ali, como fiquei sabendo, conversa regularmente com outros nomes referenciais das artes e da literatura do Nordeste, dentre eles dois autores que, sem que os conheça igualmente, têm a minha predileção de leitor: o também poeta cearense Magela Collares, conterrâneo de Estado de Everardo e conterrâneo de cidade do Luciano Maia, ambos nascidos que são em Limoeiro do Norte; e o romancista cearense (este da já famosa Saboeiro) Ronaldo Correia de Brito, autor de Galileia, pelo qual ganhou o polpudo Prêmio São Paulo de Literatura de autor consolidado no mesmo ano em que o gaúcho Altair Martins, por seu A parede no escuro, mereceu o prêmio de autor estreante.
Em relação a Everardo, durante a ditadura ele acabou seguindo para o exílio, quando então viveu na França, na Argélia e em Moçambique. Poeta e tradutor, dedica-se a versar ao português autores latinoamericanos, caso da antologia El rio hablador/O rio que fala: antologia da poesia peruana, disponível pela 7Letras, em parceria com Pedro Americo de Farias. Na reta final de 2011 acabou de ser anunciado como vencedor do Prêmio Literário Cidade de Manaus, pelo livro O fabricante de histórias. Em 2010, lançara o volume Poeiras na réstia, e sua bibliografia compreende ainda, dentre outros, Retábulo de Jerônimo Bosch (2008), Nas entrelinhas do mundo (2002), com artigos, em parceria com Abelardo Baltar; e Poemas (1999). É, ainda, e cumpre mencionar com admiração, organizador da edição de Poesia completa e prosa de Joaquim Cardozo, pela Nova Aguilar (em coedição com a Massangana/Fundaj), poeta que, ao lado de João Cabral de Melo Neto, é, na apreciação de Everardo, um dos maiores da poesia nacional.
Eis, assim, mais uma dessas gratas dádivas da melhor literatura do Nordeste ao conjunto da literatura brasileira. É por nomes da grandeza de arte e cultura de Everardo Norões que o Brasil deve se dizer a cada dia mais rico.
Romar Rudolfo Beling - romarbeling@yahoo.com.br
* "Você já escutou Agustin Lara?"
Já leu Everardo Norões?
O Fabricante de Histórias, entre outros do autor, é fascinante!
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