por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

O CANHÃO NÃO DISPAROU CONTRA JUAZEIRO EM 1914

          A revolta de Juazeiro contra o Governador Franco Rabelo sempre é contada com o enfoque no Padre Cícero. Fato normal, pois ele foi o líder do movimento e o grande vitorioso. A história, como é natural, sempre enaltece o vencedor. A epopeia de Juazeiro não deixa de ser feito notável. Pois um sacerdote de humilde lugarejo (na época) do interior, distante da capital, conseguiu reunir em torno de si chefes políticos, armar um exército, resistir ao cerco militar, marchar para Fortaleza e derrubar o Governador constituído, apoiado pela polícia militar e da maioria da população local.
            Entre os derrotados, no entanto, também houve personagens dignos de registro.  Falo de um deles aqui. Trata-se de Emílio Sá. Natural de Aquiraz, agricultor até os 18 anos, quando se mudou para Fortaleza e montou uma mercearia.  Percebendo que os produtos de maior procura eram pães, bolachas e bombons, montou uma padaria e uma fábrica de doces, ambas de pequeno porte e com processos de fabricação artesanal. O retorno foi imediato, possibilitando a ampliação dos negócios. Passou a abastecer bodegas e outras mercearias da região. Os lucros trouxeram-lhe projeção na sociedade, mas atraiu a ganância do fisco estadual. O Governo do Estado exercido pelo Comendador Nogueira Acioly, que dominou a política cearense por 16 anos, enfrentava grave crise econômica. Por conta dela, implantou medidas para aumentar a arrecadação, o que revoltou os comerciantes cearenses. Emílio foi um dos líderes do movimento. A sede das suas empresas passou a ser um dos focos de oposição, sendo atacadas várias vezes por partidários aciolistas. Numa das investidas a própria polícia tentou dissolver uma reunião e prender os participantes. Foram rechaçados à bala. A crise culminou com a deposição do Comendador Acioli e a posse do Cel. Franco Rabelo, que adotou medidas avançadas para a época, voltadas para o desenvolvimento, mas muito direcionadas para o litoral, o que desagradou os chefes políticos do interior, desaguando na revolta de Juazeiro.
            Ante a ameaça ao Governo de Franco Rabelo, Emílio Sá juntou-se aos seus defensores, incentivou civis a se armarem e lutarem ao lado da situação, tendo ele próprio mandado fabricar um canhão numa oficina da capital cearense. Comandou pessoalmente uma pequena tropa que transportou a arma até Juazeiro. Lá chegando discordou com a tática do Comandante da força governista que, em vez de lutar, optou por cercar Juazeiro. Emílio queria o ataque direto. Em razão das discussões com Emílio, o comandante Alípio Lopes foi demitido e substituído por Ladislau Lourenço.
            Com o novo comandante e auxiliado por Emílio Sá, em 22.01.14, as forças legalistas atacaram Juazeiro, mas foram repelidos. O canhão, que seria o fator surpresa da batalha, não funcionou. Os atacantes debandaram deixando o caminho livre para os revoltosos que chegaram a Fortaleza com pouca resistência.
            Um detalhe curioso de Emílio Sá, que mostra bem o traço da sua personalidade decidida, foi que, aos 22 anos, a caminho da sua padaria, avistou uma adolescente na calçada. Mudou sua trajetória e seguiu a moça à distância até a casa onde ela entrou. Seguindo o impulso, bateu à porta da residência, conversou com os pais da moça e já encerrou a visita noivo, tendo celebrado o casamento semanas depois. A noiva, que tinha apenas 14 anos, foi sua esposa durante 74 anos.

2 comentários:

Stela disse...

Joaquim sempre traz uma história rica em fatos históricos.
A objetividade e determinação de Emílio Sá, traço marcante de sua personalidade, também se fez presente quando avistou uma moça e decidiu que seria sua esposa.
Mas isso já é outra história.

socorro moreira disse...

Lembro minha avó Donana contando as histórias desse tempo. Queria ter o poder historiador de Joaquim Pinheiro...!

Grande!
Muito mais tens nos teus guardados.Esperamos por eles.

Abs