por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 9 de novembro de 2012

"American Way of Death" - José do Vale Pinheiro Feitosa


Antes que me imagine um “anti-americanista” de carteirinha, volte-se para si mesmo e compreenda o quanto a ideologia política, o estilo de vida e a cultura americana são fortes sobre a formação brasileira da geração pós-guerra. Muitos entre nós tivemos a oportunidade de sermos crítico em relação ao American Way of Life, afinal a URSS, a Social Democracia Europeia, além dos movimentos de libertação colonial, nos ofertaram esta oportunidade sem par.

O modelo americano de “desenvolvimento humano” é cada vez mais questionado pelo grau de pobreza e violência que produz, associado a uma dependência consumista que parece viver para si mesma, com enorme reação por esgotamento e corrupção da natureza que o modelo tem provocado sem qualquer parâmetro sustentável. Acho que ficou evidente que os EUA, por exemplo, parecem muito despreparados para desastres ambientes como furacões e tempestades tropicais. Primeiro foi Nova Orleans, mas isso  parece ter ficado às custas do atraso relativo, mas agora o impacto foi em Nova York e aí já não dar para esconder a marca de batom na cueca.  

O American Way of Life que começa com uma ideia generosa de liberdade e vontade de crescer individual, vai se transformando num caos progressivo não em razão do individualismo exacerbado, mas face a face com a concentração da renda e o poder absoluto do capital e das grandes corporações na área de energia, guerra, alta tecnologia e assim por diante. Por isso ele vai tomando uma série de faces de clivagem que mais e mais demonstram seus problemas.

Vou tomar quatro destas faces que existem quase em parelhas, uma a depender da outra. A primeira é expressa sistematicamente nos filmes como algo do tipo “é meu trabalho”. Isso para se referir tanto ao orgulho e de um plantador de frutas da Califórnia, quanto a um assassino pago para perseguir migrantes ilegais destas ditas plantações. “É o meu trabalho” e naquele mundo livre para viver, matar é um meio de vida. A face gêmea é de esperança frente ao espanto destrutivo e “animal” do sistema: “uma segunda chance”. Quantas vezes não a ouvimos em diálogos e até mesmo no argumento de um filme esta frase que parece dizer que o sistema pode oferecer outra chance. Em todos os ciclos de depressão econômica a segunda chance nunca aparece, mas se existe, certamente é para os mercenários a serviço do poder absoluto.

As outras duas faces são filhas diretas do neoliberalismo econômico: “cada um por si” e “a culpa é somente sua”. As duas faces de clivagem no bloco do American Way of Life parte do princípio que nem Adam Smith parecia acreditar: que o mercado seja perfeito. Teria oportunidades iguais para todos e se a pessoa não as buscou é culpa puramente delas. Coisas do tipo você tentou e não conseguiu, não precisa regulamentar práticas monopolistas e nem controlar juros, nem qualquer outro artificio para tirar você da concorrência através de práticas de sabotagem. O problema é que você não teve competência e espírito para se estabelecer.

A segunda é o do tipo: a culpa é do seu pai que não criou um patrimônio por herança. Quem mandou você não estudar o que deveria ter estudado? Por qual motivo não trabalhou mais horas do que as longas jornadas da vida? É esse o argumento do “a culpa é somente sua”.

E agora que o Obama ganhou que tal repetir uma frase que cai bem: um outro mundo é possível. Ou a de Hemingway: o mundo é um bom lugar e vale a pena lutar por ele.      

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