Estão aí a versão da Marlene Dietrich e uma das versões brasileiras
Em julho 1914, durante
a crise do liberalismo econômico e uma vez esgotada a fórmula da belle époque, a
guerra abriu a fenda sobre o solo da Europa. Começava ali uma das maiores
carnificinas já vistas entre seres humanos. A guerra das trincheiras em que
generais e marechais filhos diletos da velha oligarquia e da nova burguesia europeia
torravam a vida de jovens deixando um vazio demográfico jamais recuperado pela
Europa.
Em 1915 Hans Leip,
um professor de Hamburgo é convocado para o matadouro da juventude. O Exército
Imperial Alemão indicava-lhe a lama, a pulga, a gangrena, a fome e o destroço
das bombas nas trincheiras. Hans Leip preserva sua humanidade escrevendo um
poemas para duas mulheres: sua namorada e sua amiga, configurando uma junção
chamada Lili Marleen.
Em 1937 já nos
espantos do Nazismo e de outra onda de carnificina o poema é publicado com o
nome de “A Canção de Um Jovem Soldado em Watch” com a adição de dois novos
versos aos três já existentes. Em 1938 Norbert Schultzer escreve uma canção
perfeita para o tom lastimoso do poema.
A guerra
espalhou-se sepultando jovens em valas comuns, arrasando os campos, consumindo
os meios de subsistência das populações, destruindo as fábricas e estradas e
deixando uma vasta fome entre todos. A guerra era ao mesmo tempo o mito imbecil
da glória pela pátria e a insanidade destrutiva onde tudo deveria ser vida.
Em 1939 uma cantora
alemã, de pouco sucesso, com a necessidade de sobreviver numa Alemanha irregular,
grava a canção para o esquema de propaganda nazista. Era o improvável: uma
canção doce para um momento marcial. Enquanto o panteão da simbologia nazista
não admitia outra coisa que não o espírito guerreiro, retilíneo e duro, uma doçura
tomou conta das fileiras.
A Rádio Belgrado
das forças nazistas, que transmitia músicas, propaganda do regime e notícias
para os soldados alemãs, na falta de coisa melhor tocou o obscuro disco com a
canção Lili Marleen na voz de Lale Andersen. O Marechal Rommel com o pulso do
sentimento dos seus soldados nas areias quentes da batalha dos desertos, gosta
da música e pede para repeti-la com frequência.
Os soldados queriam
mais vida do que morte e a melancolia era um borralho em sua alma. E foi nesse
clima que a canção se tornou o grande hits nas trincheiras. E por incrível que
pudesse parecer naquele ambiente de confronto e ódios: foi o sucesso entre
todos os soldados em guerra. Em todas as línguas, mesmo que não sabendo a
tradução da letra em alemão, a canção era tão perfeita para a letra que todos
entenderam.
Os americanos
rapidamente fizeram uma versão para os seus soldados e gravaram com Marlene
Dietrich, uma alemã que abdicara de seu país em favor dos EUA. O sucesso
mundial da Dama Dietrich foi superior ao original de Lale Andersen. Mas
história não ficou aí: existem versões em Francês, Russo, Italiano, Espanhol,
Húngaro, Estoniano, Português entre tantos outros. Aqui na minha coleção tenho
mais de 30 versões da canção.
Os brasileiros fizeram
duas versões, ambas militarizadas e feitas para os soldados nos campos de
guerra da Itália. Uma das versões segue abaixo. O poema original em alemão é assim:
Vor der Kaserne vor dem
grossen Tor
Stand eine Laterne, und steht sie noch davor,
Wollen wir uns da wiedersehen
Bei der Laterne wollen wir
stehen,
Wie einst Lili Marleen, wie einst Lili Marleen.
Unsre beide Schatten sahn wie einer aus
Dass wir so lieb uns hatten, das sah man gleich daraus
Und alle Leute solln es sehn,
Wenn wir bei der Laterne stehn,
Wie einst Lili Marleen, wie einst Lili Marleen.
Schon rief der Posten: Sie blasen Zapfenstreich
Es kann drei Tage kosten! Kam'rad, ich komm ja gleich.
Da sagten wir auf Wiedersehn.
Wie gerne wöllt ich mit dir gehn,
Mit dir Lili Marleen, mit dir Lili Marleen.
Deine Schritte kennt sie,deinen schönen Gang,
Alle Abend brennt sie,doch mich vergaß sie lang.
Und sollte mir ein Leid geschehn
Wer wird bei der Laterne stehen?
Mit dir, Lili Marleen.
Aus dem stillen Raume, aus der Erde Grund
Hebt mich wie im Traume dein verliebter Mund.
Wenn sich die spaeten Nebel drehn,
Werd' ich bei der Laterne stehn
Wie einst Lili Marleen, wie einst Lili Marleen
(Português)
Em frente ao quartel, diante do portão
Existe uma lanterna e ainda está em frente
Queremos vê-la outra vez
Sob a lanterna nos reencontrar
Como outrora, Lili Marlene!
Como outrora, Lili Marlene!
Nossas duas sombras, qual uma só
Que o amor era, você veria é igual
E tudo é o que povo pode ver
Se ficarmos junto à lanterna
Como outrora, Lili Marlene!
Como outrora, Lili Marlene!
Gritou o sentinela, para nos avisar
Pode custar três dias!
Camarada eu ainda sou o mesmo
Como dissemos adeus
Como gostaria de estar contigo
Com você, Lili Marlene!
Com você Lili Marlene!
Ela sabe que o seus passos, seu agradável caminhar,
Durante toda a noite a espera, mas há muito me
esqueceu,
E se me acontecer algum mal,
Quem estará sob a lanterna?
Com você Lili Marlene!
Com você Lili Marlene!
Da minha existência tranquila, a partir deste solo,
Assim teu lábios levanta-me como num sonho.
Quando se demore o redemoinho de névoa,
Devo ficar sob esta lanterna
Como outrora, Lili Marlene!
Como outrora, Lili Marlene!
Versão original da Lale Andersen
3 comentários:
Faltou dizer sobre a versão brasileira para chamar a atenção ao final quando afinal o luar o sertão é melhor que aquela Lili Marlene das trincheiras.
Outra coisa faltou falar sobre o filme de Fassibinder sobre a canção e a vida de Lale Andersen.
Maravilha!
A música me acompanha...
Abs
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