A notícia da semana , amigos, diz respeito à caça de um bicho
esquisito , vasqueiro , mais escondido que laranja de bicheiro e falcatrua de
político. A mídia pipocou nos ares que tinham capturado o elemento escorregadio,
nas Europas, onde foi armado um alçapão
que apelidaram de Acelerador de Partículas. Há já alguns anos, perseguem o bicho que ninguém nunca viu, não
se sabe o jeitão dele. Existem só fofocas e disse-me-disse em torno da
estrovenga que carrega um nome estranho e pomposo: Bóson de Higgs. O Higgs foi
o primeiro caçador que espalhou, mundo afora, a história sobre a existência
desse bicho quase mitológico, parente da Caipora e do Pai-da-Mata. O certo é que até o presente
momento, a coisa parece mais potoca de caçador: ninguém trouxe o rabo do bicho,
uma pena do gogó, uma foto, nada: só lero-lero.
Como,
sempre, em toda Mitologia,a importância do
ser mitológico é vultosíssima. O Bóson, amigos, seria uma pequena partícula
que deve existir dentro do núcleo do átomo. Ela serviria como uma espécie de
cola para outras 12 partículas aí existentes e um tipo de mensageiro entre
elas. Acredita-se que tenha provindo ainda do Big-Bang e seria responsável, na
sua primariedade, por dar massa a todos os componentes do Universo. É , na
realidade, uma possibilidade teórica, criada dentro de um modelo de Física
Atômica que procura, desesperadamente, avançar na compreensão da intimidade da
Matéria.De tamanho ínfimo e de uma instabilidades extrema -- rapidamente se
transforma em energia-- sua captura é um desafio tremendo. Há quarenta anos se busca confirmar a sua
existência, nestes dias divulgaram-se evidências, embora ainda preliminares, de que de fato existe. Seria como se
tivéssemos capturado a Baleia acorrentada abaixo do altar de Nossa Senhora da
Penha, aqui no Crato. Dizem ter matado a
cobra, mas ainda não mostraram o pau, nem o couro do ofídio.
Impressionante
os avanços da Ciência nos últimos séculos. Conseguiu sobreviver em meio às
trevas, à perseguição religiosa, à fé cega e à faca amolada. Degrau após degrau
foi fundamentando a escada do conhecimento, tantas e tantas vezes usando como
argamassa a cinza de cientistas queimados nas fogueiras da inquisição. A
curiosidade, a desconfiança venceram as trevas da fé cega, das pseudoverdades
inquestionáveis. A Metodologia Científica pouco a pouco foi substituindo
crenças arcaicas, lendas, superstições empurradas goela abaixo por gerações e mais gerações de sacerdotes das
mais variadas Mitologias. Darwin
reescreveu o Gênesis, a Medicina desmistificou as pragas como castigo divino, a
Genética, a cada dia, substitui o sopro primal. Até do Apocalipse a Energia
Atômica já se apoderou.
Mais
dia, menos dia, capturaremos, por fim, o Bóson de Higgs e teremos em mãos a
semente primária donde tudo começou. O leitor pode até replicar que a Ciência
não explica tudo, que ficam buracos imensos em toda teoria. Tudo bem, mas a
Religião, amigos, explica bem menos. Sempre precisamos de alguns mistérios ,
como os da Santíssima Trindade ou similares e mais: acreditar, cegamente, em
potocas bem mais cabeludas que as dos Bósons . Não vale perguntar, não vale
questionar se não as espadas flamejantes nos aguardam para a expulsão do
Paraíso.
Percebo,
no entanto, que, se o Bóson , uma vez
capturado, nos possa explicar muito da nossa presença física no Universo,
falta-nos ainda descobrir uma partícula ( inexistente nos Livros Sagrados e nos
Compêndios da Física) que nos desvende essa viagem fugaz, etérea, profundamente emocional e que ante a imensidão do Universo, tem a
durabilidade de fóton do Bóson de Higgs: a Vida.
J. Flávio Vieira
Recife
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