por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 20 de outubro de 2011

DIA DO POETA Colaboração Lídia Maria Lima Batista







20 DE OUTUBRO

DIA DO POETA



Gosto muito, muito, de poesia. Admiro profundamente os poetas. Eles sabem intuir palavras que representam todo um sentir. A partir disso, compõem versos, as expressões articuladas são tecidas como a renda nos bilros das rendeiras. Precisão, beleza, habilidade, sobressaem-se causando encantamento e emoção.
Na vida, são tantos os percalços, Deus nos livre de um mundo sem poetas, não suportaríamos tamanha aridez!
Felizmente, sempre tivemos e continuamos a ter uma gama enorme de nomes que faz a arte poética; aqui, ali, acolá... Acredito na universalidade da poesia. Todos nós podemos ser agraciados, com os trabalhos mágicos desses tecelões de poemas.
Aqui, uma pequena amostra:


Robert Louis Stevenson

A minha cama é um veleiro;
nela me sinto seguro;
minha roupa de marinheiro,
vou navegando pelo escuro.
De noite embarco e sacudo a mão
para os amigos no cais;
fecho os olhos e pego o timão;
não ouço nem vejo mais.
Cauto marujo levo em segredo
para a cama uma fatia de bolo e também algum brinquedo,
pois é longa a travessia.
Corremos de noite o mundo inteiro;
mas quando chega a alvorada,
eis-me a salvo em meu quarto
e o veleiro de proa bem amarrada.


ALERTA
(Flávio Villa-Lobos)

Amortecidos pela rotina diária da vida,
meus cinco sentidos relaxam a prontidão.
Perdem vagarosamente a noção do perigo,
que aparece sempre de forma repentina.
De que me vale o intenso preparo,
o arsenal de armas sofisticadas,
as táticas de guerra planejadas,
se eu não estiver, de modo claro,
atento às mudanças do vento,
ao voo rasante das águias,
a alternância das marés,
ao som das tropas inimigas em movimento?
Eu preciso resgatar a vigilância máxima,
o total envolvimento físico na batalha
que se avizinha breve, mágica.
Em vão construirei trincheiras rasas
incapazes de conter um ataque sorrateiro:
teus olhos negros, surgindo na calada
da noite, mísseis teleguiados,
atingindo em cheio meu coração indefeso.


Epitáfio para o Séc. XX In: SANT'ANNA,
Affonso Romano de. A poesia possível. Rio de Janeiro: Rocco, 1987. Poema integrante da série Aprendizagem de História


1.Aqui jaz um século
onde houve duas ou três guerras
mundiais e milhares
de outras pequenas
e igualmente bestiais.

2. Aqui jaz um século
onde se acreditou
que estar à esquerda
ou à direita
eram questões centrais.

3. Aqui jaz um século
que quase se esvaiu
na nuvem atômica.
Salvaram-no o acaso
e os pacifistas
com sua homeopática atitude
— nux-vômica.

4. Aqui jaz o século
que um muro dividiu.
Um século de concreto
armado, canceroso,
drogado, empestado,
que enfim sobreviveu
às bactérias que pariu.

5. Aqui jaz um século
que se abismou
com as estrelas
nas telas
e que o suicídio
de supernovas
contemplou. Um século filmado
que o vento levou.

6.Aqui jaz um século
semiótico e despótico,
que se pensou dialético
foi patético e aidético. um século que decretou a morte de Deus,
a morte da história,
a morte do homem,
em que se pisou na Lua
e se morreu de fome.

7.Aqui jaz um século
que opondo classe a classe
quase se desclassificou.
Século cheio de anátemas
e antenas, sibérias e gestapos
e ideológicas safenas;
século tecnicolor
que tudo transplantou e o branco, do negro,
a custo aproximou.

8. Aqui jaz um século
que se deitou no divã.
Século narciso & esquizo,
que não pôde computar
seus neologismos.
Século vanguardista,
marxista, guerrilheiro,
terrorista, freudiano,
proustiano, joyciano,
borges-kafkiano.
Século de utopias e hippies
que caberiam num chip.

9. Aqui jaz um século
que se chamou moderno
e olhando presunçoso
o passsado e o futuro
julgou-se eterno;
século que de si
fez tanto alarde
e, no entanto,
— já vai tarde.


De Aroldo Pereira um recado para todos nós:

Poeta

Desmistifica o tédio...
escreve – constrói
arquiteta a vida
como quem entende.

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